quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Estados de Espírito

Há aqueles raros momentos na existência em que um novo sentimento, um novo estado de espírito nasce no âmago do ser. Algo único, complexo e sublime, que orienta todo o pensamento, que conduz a razão nos infinitos caminhos que esta pode percorrer, que faz brotar a inspiração e lhe define os tons, que delimita as paixões e a impulsividade da alma.
Este momento é aquele em que se sincronizam todos os sentires, em que o espírito, a mente, o corpo e o que mais lhe definir, entram em uma mesma freqüência.
Este novo estado possibilita novos e únicos insights próprios, lhe permite pontos de vista jamais sonhados e inconcebíveis em outras oportunidades, assim este estado de espírito lhe abre novos caminhos e expande seus limites.
Recriar este momento pode ser incrivelmente árduo e pode se tornar a grande busca da vida de muitos. Retomar aquela sensação da infância quando se passeava com os avós, ou quando pela manhã se deitava na cama dos pais e sentia os lençóis com textura diferentes dos seus, quando sentia o perfume de alguém que já se foi à muitos anos ou o aroma de uma receita que muito lhe agradava ou de um lugar que não mais existe, de um filme que lhe inspirou, ou mesmo aquela sensação de ouvir pela primeira vez aquela música que lhe invadia e se tornaria a trilha sonora de uma fase de sua vida.
Todos estes casos podem ser resumidos à experiências sensoriais, mas com certeza não se limitam à isso. Cada um deles é uma complexa aquarela, uma intrincada sinfonia de diferentes sensações, sentimentos e pensamentos que se sincronizam num mesmo estado de espírito e que o torna tão especial e difícil de se reproduzir, seja por que o tempo deteriora as fontes dos sentidos, modificando paisagens, desvanecendo perfumes, desbotando cores, edificando barreiras, ou seja por que nós também sofremos este efeito em nós, que agora somos outros, perdemos nossa inocência e temos pensamentos e sentimentos diferentes daqueles que já tivemos, sentimos as coisas de modo irreversivelmente distinta de outrora.
Acho que esta é a magia da infância e da juventude, poder gozar destes momentos sublimes com uma freqüência invejável, e também acredito que seja este preciso estado que muitos dos artistas buscam para fazer sua arte, assim como os apreciadores de arte busquem ao apreciá-las e mergulhar em suas obras, e que também seja esta mesma sincronia que viajantes buscam ao encontrar novos cenários que despertem novos estados em nosso espírito.

Estes estados de estado de espírito sejam talvez a causa primeira não só de nossos impulsos, mas dos sentimentos de saudade, de saudosismo, de vazio, de plenitude, de invencibilidade, de suma fragilidade, de amor e de medo. Talvez sejam estas forças complexas que permeiem nossa igualmente complexa psique e que nos fazem tão incógnitos e misteriosos para nós mesmos, e talvez, só talvez, estas forças que nos façam olhar com igual pavor e admiração para as estrelas e para dentro de nossos corações.

segunda-feira, 9 de julho de 2012


O crânio seco. Os ossos duros. A pele pálida. A boca cálida. A mente pudica. Como uma serpente serena. Com alma em limite. Está acontecendo alguma coisa. Como água parada até então. As coisas começam a acelerar. Ouve-se um som de rachadura. Meu cérebro parece ficar leve e pesado, quando então... 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Hiperlink, Vigilância Epistêmica, Bom Senso e Anonnymous

Bem, eu venho aqui para dizer algo que por muitas vezes eu tentei, mas sempre falhei por dois motivos básicos, primeiramente por que sou um filho do meu tempo e como tal não possuo pensamento linear, penso em hiperlink, minha mente pensa numa velocidade muito maior do que a que posso registrar (tanto em palavra gravada quanto e ainda menos em escrita), e não estou me gabando por isso, uma vez que isso neste momento é de grande prejuízo e que em teoria toda minha geração pensa assim.

O fato é que, retornando ao começo, existe muito a se dizer, no entanto tudo já se foi dito, e este é o segundo motivo (além do pensamento em hiperlink ao qual me referi no primeiro parágrafo, caso se estejam dando por falta de um motivo) pelo qual não consegui dizer nada até então. Sim, há muita cois a se saber sobre o mundo e sobre tudo, mas as coisas simplesmente se repetem, cada palavra dita por você já foi dita mesmo que de outra forma por alguém em outro lugar em outro tempo, assim como nossa religião cristã não passa de uma releitura ou cópia quase descarada de religiões pré-cristãs pagãs como a religião egípcia, todo o resto também é apenas uma réplica de algo pré-existente, e isso sempre me tirou muito a vontade de falar sobre qualquer coisa (sem contar o fato que eu tenho muito menos gabarito para falar sobre qualquer coisa do que os que o disseram em primeiro lugar, eu seria apenas uma reprodução imperfeita, e nada melhor do que a fonte original).

Desculpem-me pelas aparentes divagações, mas garanto-lhes que de certa forma elas são bastante necessárias e fazem parte inerente da ideia principal que tento passar, sinto por não poder escrever de forma mais concisa prazerosa de se ler. E quanto à ideia principal, já se é sabido muitas coisas, por exemplo: que a religião é um meio inventado de manipulação das massas e é a maior mentira já contada, que nosso sistema é um sistema em crise, que a guerra contra o terrorismo foi muito bem planejada, comprada e executada por aqueles mesmos que a "combatem", que somos escravos de um sistema financeiro comandado por uma pequena elite detentora de todo o capital e tudo mais que há para se saber. E eu em minha jovem e humilde pessoa não posso ter a soberba maior de pensar que sei de algo que mais ninguém na humanidade saiba, ou que a saiba mais ou melhor. (como primeiro hiperlink deixo os documentários "Zeitgeist", a "História das Coisas" e a "Ilha das Flores".)

Mas e então o que teria eu a dizer? O fato óbvio que quando eu digo que todas estas coisas são sabidas e conhecidas não é algo unânime, não são todos os que sabem de tudo isso, muito pelo contrário, são muito poucos. Ainda vemos igrejas abarrotadas de pessoas e discursos inflamados sobre política e pessoas reféns da mídia popular viciadas em entretenimento, e é nisso que eu modestamente acredito que possa ter algum papel.

Todas essas coisas que citei e várias outras são instrumentos de uma pequena minoria que só deseja manter o controle sobre absolutamente tudo e manter esta hierarquia eternamente, e logo para os mesmos não é interessante que a grande maioria das pessoas saibam de tudo, e é ai que entram todas estas distrações midiáticas, políticas, religiosas, financeiras e tudo mais, e como grandes detentores de praticamente tudo, seja educação, ou meios de comunicação, portanto toda fonte que nos provém com conhecimento, isso estaria garantido.

Todavia uma criação deste sistema saiu fora de controle, um filho bastardo que agora lhes causa problemas, um único lugar onde ainda é difícil manter o controle absoluto, a internet (e que desgosto que me dá falar disso pelo mesmo segundo motivo que já citei). Nela abundam uma quantidade de informação pouco tangível à nossa imaginação, e não vou me demorar ainda mais provando isso, pois como já disse, tudo aqui escrito já foi dito e está justamente lá, na internet, só vou dar-lhes uma sugestão de modus-operandi:

Em algum lugar eu vi que o cérebro de nossa geração está agora habituado em uma forma de pensamento e raciocínio totalmente nova. Até as gerações passadas o raciocínio humano era feito de forma linear, e qualquer coisa fora disso facilmente o confundia, contudo nossa atual forma de pensar é dada por hiperlink (e já estou me cansando de repetir palavras, não gastarei muitos parágrafos explicando-o use a internet e descubra por si mesmo), logo a velocidade e quantidade de informações aumenta e a qualidade pode sofrer prejuízos.

Então se já pensamos em hiperlink vamos fazer isso se tornar algo útil, vamos nos aproveitar de suas vantagens e amenizar suas desvantagens, uma vez pensando em hiperlink precisamos de uma quantidade de informação (ou de entretenimento) cada vez maior para suprir nosso cérebro (ou para nos alienar), um livro então embora muito mais completo pode agora não ser mais a melhor forma de se conhecer sobre um assunto (uma série de pesquisas rápidas na Wikipédia e outros lugares podem ser tão frutíferas quanto) uma vez que pode-se utilizar do hiperlink, quando se pesquisa sobre o 11 de setembro vários nomes e termos podem vir no corpo do texto e se utilizados como hiperlink pode se agregar uma quantidade de informações bastante valiosas.

Porém como eu já disse a internet tem informações em excesso, ai entra a vigilância epistêmica, um hiperlink pode me levar à uma página de resultados, em que todos os primeiros são sobre nada muito revelador (como receitas de bolo) e mais ao fim da página informações muito valiosas, com isso não sobra muito mais a se falar sobre a vigilância epistêmica, basta que se procure sobre ela e se a utilize (embora a importância que a colocou no título desta postagem será ressaltada posteriormente).

Para ter certeza que ela funcionará entra o bom senso, informações virão de todos os tipos, e as teorias da conspiração irão assombrar a verdade que buscamos. O bom senso virou piada hodiernamente, nas redes sociais, portais de humor, e tudo mais podemos e cansamos de ver, gostar e compartilhar sátiras da falta de bom senso que a cada dia atinge níveis mais aterrorizantes, e assim parece que a cada vez procuramos nos superar em nossa falta de bom senso, uma vez que não há um dia que não se veja um caso destes, e ainda nos surpreendemos com os níveis em que esta falta chega.

Devemos investigar com um rigor científico e precisão cirúrgica onde é que nos foi tomado o bom senso, onde ele nasce e com minúcia forense onde foi seu infanticídio. Talvez esteja em sua própria sátira seu suicídio, o próprio excesso de entretenimento se encarrega desse assassínio.

O assustador não são os absurdos isolados que são chagas da própria condição humana, como os doentes, insanos, psicopatas, pedófilos, estupradores entre outros, que trazem em si uma condição claramente patológica, que precisa apenas de um estopim externo condicional para que se manifeste. Contra estes infelizmente pouco temos à fazer a não ser identificá-los e prevenir que causem seus danos.

O assustador são as regras, não as exceções. Sãos as centenas de milhares, são os drogados, os assassinos, os mentirosos, os corruptos, e os ignorantes por opção. São aqueles que não possuem propensão biológica, médica ou patológica para cometerem seus crimes ou consentirem com os mesmos. Estes são forjados diariamente em frente a telas brilhantes, salas de aula empoeiradas e famílias disfuncionais.

Com os conhecimentos que temos hoje poderíamos ter uma realidade muito mais promissora, mas não a temos, e embora muito reclamemos e nos perguntemos o por que, pouco investigamos e pouco fazemos, e esse é nosso problema, e é isso que tento abrandar. Não proponho revoluções, estou cansado de ver estas propostas, há grupos que em frente aos absurdos que chegamos em nossa época montam supostas “legiões” em causas comuns, e usam de slogans inspiradores e todo tipo de maquinaria inteligente para unir e direcionar grandes contingentes de pessoas úteis e suas opiniões.

Estas legiões embora sim muito úteis e supostamente bem informadas me decepcionam e me assustam, pois ainda estão perdidas e ainda não sabem de nada mesmo tendo todas as informações. Falta neles um refino em seu pensamento e hiperlink (voltando a ele), a capacidade de reter informações, ideias e pensamentos desta grande massa é muito beneficiada por esta forma de pensamento, entretanto não existe uma conexão e síntese dos mesmos, não há neles produção intelectual realmente relevante. Vejo debates sobre como derrubar um sistema atual ou como atacá-lo, mas não vejo debates de como depurá-lo, de como organizar a educação de um país, de como garantir saúde à população, de como prevenir guerras ou crises econômicas, de como acabar com a fome mundial, de como realmente mudarmos nossa realidade ao invés de substituirmos por outra semelhante.

Vejo pessoas que assistiram sentadas todas as guerras e crises que vieram e que passaram, e que só se manifestaram quando lhes foi revogado o direito de assistir seus filmes no conforto da mesma cadeira na qual foram plateia de tantos absurdos e mentiras. E não vejo ninguém que tome atitude que ainda sim realmente lhe custe algo sem que lhe proporcione diretamente algum tipo de satisfação, como a satisfação de fazer algo que se gosta (como operações de hacking), que se faz de forma fácil, sem desgaste, no conforto de sua casa com alguns poucos cliques, sem feridas de batalha, sem perda de companheiros, sem traumas de guerra, e com a satisfação de se sentir “parte” de algo, sendo de uma geração que sempre sentiu esse problema (e que termina por se manifestar na gama nunca antes vista de grupos e tribos urbanas, bulling e isolamento), a satisfação de ser conhecido, de ser admirado mesmo que anonimamente por vários, por sair simbolicamente na capa de revistas e jornais, e poder estufar o peito quando falar sobre isso com os amigos. Ter a deliciosa catarse de Robim Hood, ter a satisfação de quebrar as regras, de ser o “bandido”, de sentir que tem a liberdade para ir contra um sistema, e ainda sim ao mesmo tempo ser o “mocinho” por sentir que está fazendo a coisa certa e ser admirado por tantos, é o melhor de dois mundo para um ego deformado.

E em momento algum há questionamentos sobre a própria “organização” a qual se orgulham de dizer que fazem parte, não se perguntam quais seus objetivos reais, de onde ela surgiu, quem está por trás de tudo. Essa sensação que descrevi é sua própria morfina, que os anestesia e por tanto lhes basta. Os faz acreditar na ideia quase infantil que são totalmente independentes, democráticos, transparentes, abertos, e que não estão sendo manipulados de nenhuma forma, que não existe nada nem ninguém de dentro que não dê a cara a tapa, ou que se aproveite deles, que não existe intencionalidade alguma ou que não existam divisões internas e hierarquias dentro do grupo. Enquanto isso todos falam o que querem, as informações são tantas que se diluem, tantas vozes se tornam indistintas, as previsões psicológicas de comportamento de grupo se cumprem, e a multidão marcha sob os belos slogans inspiradores, assim vestida de negro, bela e assustadora de se ver de longe, confusa e alienada de perto, usada como cão de briga para assustar inimigos, controlada por alguém desconhecido que segura a coleira.

Sabe, divagando mais do que possível nesse momento, me assusta não ter um fórum de debates reconhecido sobre isso, sobre uma nova proposta de sistema global. Como um exemplo que um amigo me deu uma vez como prova de um sistema em crise (como se já não houvessem suficientes). O nosso sistema científico, médico e farmacêutico (assistam ao “Jardineiro Fiel”), hoje existe uma pandemia de AIDS no mundo, embora os pacientes soropositivos tenham atualmente muito que comemorar, com os tratamentos e coquetéis é possível se ter uma vida longa e dentro do possível quase normal, e em nosso país eles têm ainda mais motivos para comemorar, uma vez que nosso governo decidiu não respeitar a patente desses coquetéis e os distribui gratuitamente à população que deles necessita, uma vez que estes medicamentos são bastante caros e a grande maioria não teria acesso, mas vejam bem que eles são caros não por custos de fabricação, mas sim por royalties e patentes farmacêuticas, o que faz com que os laboratórios e grandes empresas de fármacos lucrem com isso, e lucrem muito bem, uma vez que devemos lembrar que existem uma pandemia e que os pacientes não se curam e agora têm uma vida longa, então são muitas pessoas comprando durante muitos anos estes mesmos medicamentos. Agora pense um pouco, estes laboratórios com capacidade e verba suficiente para produzir estes coquetéis tão eficientes seriam os mesmos com capital e capacidade para eventualmente descobrirem a cura para a AIDS. No entanto, caso descobrissem, eles iriam noticiar? O que seria mais lucrativo, manter uma multidão (lembrando-se também que se trata de uma doença contagiosa, quanto mais infectados mais ela tende a se espalhar em progressão) dependente eternamente de seus produtos ou simplesmente erradicar a doença? Logo é muito provável que a cura já exista e seja guardada a sete chaves, e aos laboratórios menores não é liberada nenhuma informação (protegida por patentes e até meios ilegais ou desleais como trustes ou holdings), ou mesmo a compra e fechamento de laboratórios que poderiam fornecer concorrência (e aqui deixo outro hiperlink e exemplo concreto disso, sobre a verdade da gripe aviária que ninguém lembra mais, apenas o secretário de defesa americano que enriqueceu na casa dos trilhões com a patente da vacina). Agora olhando do específico para o geral poderemos imaginar que isso pode acontecer com várias descobertas científicas, uma vez que existe um déficit de incentivo ao avanço científico se comparado ao incentivo comercial (e aqui aproveito para me valer novamente um pouco do que eu tanto falei ao longo do texto, o hiperlink, e peço que pesquisem sobre o ACTA, com isso poderão ter um vislumbre do que eu estou falando), de forma que é muito mais lucrativo a restrição de algum bem (seja ele material ou não) para que este se valorize (manipulando-se de certa forma a oferta e procura, criando mercados dependentes e eliminando concorrências ou fontes alternativas, cerceando a liberdade), restringi-se a inovação, a melhoria e o avanço, nosso sistema nesse ponto encontra-se truncado e impede a si mesmo de criar melhorias, um sistema baseado em incentivos e não em capital nesse caso poderia se dar muito melhor.

E eu poderia usar de teorias econômicas e filosofias muito ricas para apresentar e explicar cada ponto, como a filosofia de Kierkegaard para mostrar o como toda essa massa de mascarados só sentiria o verdadeiro drama de si e por isso foi plateia de um mundo que se autodestruía por tanto tempo e só se moveu quando teve um drama pessoal por não poder ouvir suas musicas favoritas sem pagar, ou quando depois de uma infância consumista na frente da TV, com tantos comerciais entre os desenhos que os faziam desejar ter tudo e programas e filmes que diziam que eles seriam ricos e felizes quando crescessem e agora que têm de trabalhar são assaltados por impostos e políticos corruptos que não os permitem ter aquilo que lhes foi prometido pela ilusão da propaganda (e mais um hiperlink para "Criança, a Alma do Negócio" e para o filme "Clube da Luta").

Poderia ver a história de um ponto de vista contrário também, poderia vê-la com o formalismo hegeliano, com a tese, antítese e síntese que estamos vivendo e de muitas outras formas, mas como eu cansei de dizer e irei repetir um pouco mais, tudo isso já foi dito, por eles próprios e muitos antes e depois, e quem seria melhor para falar sobre a filosofia de Hegel que o próprio Hegel. O fato é que tanto Hegel quanto Kierkegaard estão mortos, e então não podem eles mesmos aplicar sua forma de pensar no que vivemos agora em nossas situações cotidianas, coisa que nós mesmos deveríamos fazer, mas estamos muito preguiçosos e mal acostumados com tanta informação já digerida entupindo nosso cérebro (e novamente a overdose de entretenimento) que não o fazemos e até pagamos para que alguns poucos o façam por nós, e assim somos manipulados por eles e por suas intenções e ideias.

Eu proponho à partir disso a criação de um manual de hiperlinks, que poderia ter como plataforma básica a própria internet em si ou algo como uma Wikipédia, só que de uma forma mais séria, com uma rigorosa vigilância epistêmica, com fóruns de discussão semelhantes à parlamentos ou câmara de senadores e deputados (de forma a haver uma democracia direta através da tecnologia, sem a necessidade de políticos, ou pelo menos de tantos deles), quer seria em parte parecido com uma legislação, em parte como um manual orgânico (em se tratando de organização e funcionamento) social, político, econômico entre outros. Deve haver dentre tantos sete bilhões de seres humanos, tantos estudiosos, pesquisadores, ou mesmo leigos que abundam em informação (e que embora tenham ou pelo menos em teoria possam ter acesso a quase qualquer informação e conhecimento sobre um assunto ainda não são capazes de formarem suas opiniões mesmo tento tudo disponível para isto) ideias que possam ser aproveitadas para que possamos ter em tudo alguma melhoria. Dentre todas as teorias já criadas é hora de fazermos uma nova síntese de nosso tempo, com algo mais belo e funcional, algo que substitua este sistema enferrujado que já nos bem serviu e agora idoso, esclerosado, casmurro e cansado necessita de se aposentar.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Kierkegaard

Um homem verdadeiramente são pode imitar um homem louco, atuar e enganar aos demais em sua falsa loucura, já um homem verdadeiramente louco não pode nos convencer de que é mentalmente hígido o tempo todo, não pode mimetizar a razão e sanidade em sua perfeição, do contrário jamais o teríamos tomado por louco.

Então se não podem vocês ditos homens sãos imitar ou equiparar minha loucura, ao passo que eu posso como bem entender prever e provar de sua dita razão e enganar a todos que sou são, minha loucura então é genialidade, e sua sanidade é apenas limitação.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Bóris, O Criador

Uma fenda se abre no meio da Ásia, num lugar remoto, instrumentos de navegação por todo o globo sofrem interferência, só é encontrado um homem no local. Um velho ranzinza que se autodenomina O Criador.

A fenda leva a um mundo medieval, os homens que a exploraram não sabem dizer ao certo qual a localização espaço-temporal da mesma.

- Tolos – Exclama o velho – Não é uma fenda pro passado, as fendas temporais são unilaterais, não se pode retornar ao passado por elas, só se avança ao futuro, do contrario a realidade entraria em colapso. Aquilo que vocês vêem ali é outro universo.

O velho era o criador de vários universos, 42 para ser mais exato. Era portanto um criador. Em cada um de seus universos era também Deus, mas não no nosso, este ele não havia criado, e aqui era apenas um velho.

Os outros criadores competiam de certa forma em suas obras, estes criadores tinham diversas formas, alguns não tinham forma nenhuma, o que às vezes era bem conveniente, por assim poderem ser onipresentes, mas se perdessem a Consciência deixavam de ser criadores, ou seja morriam, e passavam então a se tornar leis. Como a gravidade. Algo onipresente que possui uma vontade mas não uma consciência. Para prevenir isso alguns tomavam tantas outras formas, havia um que era uma galáxia ele mesmo.

Nosso Criador era no caso realmente a nossa imagem e semelhança, mas de velho e barbudo não tinha nada, era uma mulher, a mais bonita que se pudesse, ou não, imaginar. Diferentemente do velho ranzinza não só em aparência, mas em estilo de trabalho, não fez muitos universos na teia de multiversos, fez apenas o nosso. Mas este era uma obra prima em questão. A união de todos os seres deste eram conhecidos como o 13º Anjo, e era superior até a maioria dos criadores, incluindo nosso protagonista mal-humorado. Belíssimos mecanismos faziam esse universo funcionar, e com inveja o pequeno homem, que a essa altura não tinha ainda esta forma, resolveu bisbilhotar, e entrou nesta nossa realidade.

Bem nossa criadora de nada ficou contente, e então prendeu às nossas regras o pobre criador que então passaremos a chamar de Boris. Uma vez preso às limitações de um ser humano Boris perdeu a maior parte de seus poderes antes ilimitados, agora tinha de se aproveitar das falhas do mundo criado para escapar, e aos poucos ir descobrindo os limites do corpo que agora habitava para que pudesse recobrar ao menos em parte seus poderes.

Algumas dúvidas prevalecem, como o grande Porque de os criadores criarem, ou quem é que os criou antes de tudo? Para Boris essas eram questões muito tolas, e ele rosnava respostas simplistas, como que dizia que criavam por que era possível (imagine-se onipotente, o que você faria no vazio infinito da realidade?), pergunte aos artistas, por que eles criam, aos escritores por que escrevem, aos compositores por que compõe, aos pintores por que pintam? E como assim quem nos criou? Ninguém é obvio, sempre existimos, a noção de infinito é naturalmente incompreensível para vocês que medem tudo pela vida e morte que conhecem (afinal vocês mesmos dizem que são a medida de todas as coisas), para nós criadores é bastante entendível, simples e aceitável que nada veio antes nem depois de nós, a eternidade e o infinito são nossa realidade. Claro, existem os criadores artificiais, que são as criações mais que perfeitas que passam então a serem criadores elas mesmas, mas nunca se houve noticias disso, é apenas uma especulação de alguns criadores muito cheios de si, isso nunca aconteceu, e duvido que aconteça algum dia, de resto temos todos a mesma idade, e nunca presenciamos um nascimento.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Depressão de começo/meio de férias... it got me (again)...¬¬

terça-feira, 12 de julho de 2011

Idéias Notívagas

Sempre me perguntei como conseguiria na página de um livro criar o tão famoso "clima" para uma cena ou história, é fácil conseguir isso com sons e imagens, as musicas, os filmes, mesmo as fotos o fazem muito bem, mas como a monótona pagina igual a todas as outras, com mesma textura, cor, cheiro de todas as outras poderia fazer isso? Entendi então que não se "cria o clima", se convence quem lê, ou ouve, ou assiste, a criá-lo para si. Toda arte então é uma tentativa de convencimento, uma forma de domar o arbítrio alheio para fazer uso das presciências de cada um, de forma a criar-se o desejado. Por isso a arte está nos olhos de quem vê, e cada um vê de formas diferentes a mesma obra, e cada um decide se gosta ou não da mesma, cada um se permite em maior ou menor grau, das várias formas possíveis, se convencer ou não do que lhe foi proposto. E por isso o conhecimento faz parte da arte, só se convence a criar aquilo que já se conhece em parte, assim como a criatividade reside na permissividade do auto-convencimento, criativo é aquele que se permite criar, que se permite convencer do inimaginável até então.

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Prever o futuro é escolhê-lo (ou criá-lo).

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Egoísmo e O Altruísmo Sob o Ponto de Vista Evolutivos

Bem, aqui segue um e-mail que eu já fiz a algum tempo, em resposta a um outro que meu primo me mandou. O e-mail original que eu recebi está escrito primeiro logo abaixo, e mais abaixo, sob ele, minha resposta, estou agora postando ela para que possam conhecer um pouco do que eu acredito. E como um amigo meu já bem disse, "ser exemplo é o melhor que você pode fazer", e como não tenho sido um tão bom vou tentar com esse e-mail o ser pelo menos um pouco, espero passar ao menos um pouco de inspiração à vocês.

A idéia era postar ele desde o início, mas como foi um e-mail resposta, feito às pressas no calor do momento e tudo mais, não ficou lá muito bom, então eu iria melhorar ele, reescrever, editar antes d postar aqui, e por isso não postei até hoje (sim, sou um tanto preguiçoso, admito!)

Então, como eu sei que se for pra arrumar ele não vou postar nunca, vou postar ele como está mesmo e se as pessoas realmente gostarem eu me sentirei motivado a melhorar ele, logo... Comentem! Critiquem! Debatam! Me ajudem a evoluir minhas opiniões ok?

E Aqui vai o e-mail de corrente original:
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From: [Content Suppressed]

MUITO INTERESSANTE...
FATO VERÍDICO

Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que
ele nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez,
reprovado uma classe inteira.
Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo
realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico,
tudo seria igualitário e 'justo'.
O professor então disse: "Ok, vamos fazer um experimento
socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas
nas provas."
Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e
portanto seriam 'justas'. Isso quis dizer que todos receberiam as
mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso
também quis dizer, claro, que ninguém receberia um "A"...
Depois que a média das primeiras provas foi tirada, todos
receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os
alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o
resultado.
Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram
ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma.
Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles
também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto,
agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos
preguiçosos. Como um resultado, a segunda média das provas foi "D".
Ninguém gostou.
Depois da terceira prova, a média geral foi um "F".
As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças
entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer
parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça'
dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações,
inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela
turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para
beneficiar o resto da sala.
Portanto, todos os alunos repetiram o ano... para sua total
surpresa.
O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado
porque ele foi baseado no menor esforço possível da parte de seus
participantes.
Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso
na situação a partir da qual o experimento tinha começado.
"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo
sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o
governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem
seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas,
então o fracasso é inevitável."
"É impossível levar o pobre à prosperidade através de
legislações que punem os ricos pela prosperidade. Cada pessoa que
recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. O
governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro
alguém.
"Quando metade da população entende a ideia de que não
precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá
sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais
a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao
começo do fim de uma nação.

É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."
Adrian Rogers, 1931
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[Só um comentário, para mim é preferível a extinção dessa raça egoísta da forma descrita por Adrian Rogers, do que a sobrevivência de poucos sob o manto da desigualdade e injustiça, antes a destruição de uma nação do que uma supostamente próspera erguida sobre o flagelo da maioria, e o assassínio da dignidade alheia de tantos. Os fins NÃO justificam os meios.]

Agora, minha resposta:

É, mas o problema é quando 80%~90% trabalham, e 10% ficam com a riqueza.

Agora eu pergunto, se um filho de médico, que teve sua vaga comprada em uma universidade, que ao sair ganhou tudo dos pais, entrou trabalhando na clinica montada pelo pai, que não é qualificado para exercer a profissão, que sai impune de seus erros pelo nome e patrimônio que tem, é justo? Se alguém tem em sua mesa mais do que é capaz de consumir (já é obeso por isso), e a 30 metros de sua casa mora um homem, em baixo de uma ponte, por não ter tido pais, por não ter tido acesso a educação, por não ter tido oportunidade de emprego (quem contrataria alguém sujo e sem educação e formação nenhuma, mesmo que não seja culpa dele, mesmo que seja um ciclo, mesmo que ele não tenha roupas limpas pois não tem emprego, e não tem emprego por não ter roupas limpas), por não ter tido comida para se sustentar, morre de fome, ou frio ao seu lado, enquanto o filho de medico compra um insulfime mais caro para não ver o homem fedido se putrefazendo ao lado.

Ou quem disse o quanto cada trabalho vale? Um lixeiro que trabalha varias horas por dia, num serviço insalubre e perigoso, ganha quantidades infímas, enquanto um deputado que quase não trabalha e NÃO precisa ter um nível maior de instrução (logo nem esforço intelectual foi exigido) ganha fortunas. Nem pela importância social é medido esse valor. Pois pode existir e passar bem uma sociedade sem deputados, mas não vivemos 1 mês sem lixeiros. Seria tão injusto e errado, dar 10% daquela comida em excesso na mesa do deputado ou do filho de medico, que iria inevitavelmente para o lixo, para alguém que nada tem?

Bem, eu me dou o trabalho de tecer uma pequena teoria pessoal. Inicialmente irei explicitar alguns conceitos para sustentar meu ponto de vista.
Apomorfia é um caráter derivado, ou seja, uma evolução. Algo desenvolvido, e selecionado (provando-se assim superior, ou pelo menos melhor adaptado).
Plesiomorfia é exatamente o contrario, é um carater primitivo do qual algum se derivou.

Minha teoria é que o Altruismo (notem as maiúsculas alegorizantes por favor) é uma apomorfia. Ninguém nasce altruista, as pessoas aprender a serem altruistas. Uma criança quer tudo, quer mamar, ela quer atenção, quer as coisas do jeito dela, e chora e faz birra se não consegue. Ao crescer e amadurecer ela percebe que não é assim que as coisas funcionam, e que para viver em sociedade, deve-se ceder por vezes e ser equilibrado. Pois se continua a agir da forma que agia antes, terá resultados muito piores a um longo ou médio prazo. No nível de uma sociedade a coisa é parecida, só que obviamente, devido às proporções, há um "delay" muito maior, e a visibilidade dos fatos também.
Ou seja, em um exemplo pratico, atualmente se gastam verdadeiras fortunas em segurança (alarmes, guardas, condomínios fechados, carros blindados, etc) e ainda sim, ninguém se sente seguro, e de fato ninguém está seguro. Se essa fortuna gasta em segurança fosse gasta por exemplo em educação, e voltada para ao invés de criar muros para manter os "invasores" longe fosse para tornar esses "invasores" seres produtivos da sociedade, que não querem (pois foram educados e instruídos com moral e ética) e não precisam (pois têm perspectivas de vida, possibilidades reais, e necessidades supridas) roubar, não seriam necessários os muros, e se sentiria a real paz e segurança, além de se viver numa sociedade mais desenvolvida, de não precisar se trancar em condomínios e olhar pelas grades (como se fosse você o criminoso) para um mundo feio, sujo e desagradável aos olhos. Esse mesmo ser que morre e fede moribundo às margens do seu quintal poderia ser o medico que descobre a cura para o câncer da sua esposa, ou o professor que inspira seu filho.

O Egoísmo é plesiomorfico, é a característica de pessoas que não são capazes de ter uma visão além dos muros de seus condomínios.
O Altruismo é de certa forma egoista se formos ver, mas é um egoismo apomorfico, mais desenvolvido, mais próximo da perfeição para qual nós seres humanos seguimos e devemos sempre buscar, e que nosso telencéfalo desenvolvido pela evolução e seleção natural nos permite.
A educação deve acima de tudo nos orientar e nos dar a paz de espírito de poder confiar e contar com o próximo, para que possamos fazer nossa parte sabendo que o outro fará a dele. E se não pudermos ter essa segurança, então vamos batalhar para tê-la, e como Gandhi dizia, sejamos a mudança que queremos ver no mundo. (e pelo menos nós mesmos e nossos filhos que sigam essa idéia, pois uma pessoa pode sim fazer a diferença, como já foi provado tantas vezes durante a breve historia de nossa espécie).

Luiz Felipe Reversi.

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Estou Editando a postagem para adicionar dois vídeos que eu acredito que complementam belissímamente o que eu disse, e também para comunicar que ainda tenho muito o que dizer sobre tudo isso, tantos argumentos vazios do e-mail original que faltam apontar,e muito ainda há de se complementar. Porém o post já está demasiado grande e duvido que muitas pessoas tenham lido até aqui, por isso vou me abster de mais argumentação, entretanto se alguém quiser pode comentar algo e eu vou complementando na forma de respostas aos comentários abaixo do post. Obrigado

Divagações e Premissas

[Aviso: este texto não é interessante nem irá lhe acrescentar em nada, se não estiver extremamente curioso ou com a vida muito desocupada, não se dê ao trabalho de ler]

Bem, estou a tanto tempo sem postar nada aqui que já nem sei como começar um post...
É faz muito tempo que não posto, eu sei, mas não reclamem a culpa é totalmente minha e reclamar de nada adianta, alias, nem sei pra quem eu estou falando, alguém realmente ainda lê meu blog (e se incomoda se eu não postar nada)? [se alguém ainda lê pode deixar um comentário dizendo que sim ok, quem sabe me estimula a postar mais]

Certo, mas de qualquer forma tenho a leve sensação que devo uma explicação para uma audiência inexistente, então vamos lá:

Não, não foi por falta de inspiração, sem querer parecer prepotente (coisa que sou, e muito. Mas juro que tento melhorar) mas isso nunca me faltou realmente o problema é outro.
Não foi também por falta de algo para falar sobre, novamente sem querer parecer enfatuado, mas tenho vontade de escrever sobre tudo, de todas as formas possíveis, gosto das criticas e dissertações, das prosas e poesias, com ou sem métrica ou rima, simplesmente divagar e dialogar com você sujeito oculto e possivelmente inexistente, opinião geralmente não me falta, peco sempre pelo excesso, às vezes sou contraditório em mim de tanta opinião não digerida que sem querer absorvo (e disso não me orgulho, realmente me falta tempo para essa ruminação mental).
Mas então qual o problema? Tempo? Jamais seria justificativa alguma o tempo, por mais escasso que seja ele é sempre uma mera questão de prioridades, se existe alguém que é capaz de fazer tantas coisas quanto se pode numerar (e existe, a Ásia é cheia deles), então todos podemos.

Ok, agora você me diz, -cansei, não lerei mais daqui em diante, muito escreveu e nada concluiu.-
Calma, de tudo pode se tirar proveito, apenas é necessária a arte do garimpo, e como eu disse, gosto de divagar e é isso que estou fazendo se não lhe apetece, não deveria nem ter começado a ler e ponto, pare onde lhe convier, mas eu não pararei contigo.

Mas voltando, e agora sendo mais sucinto um pouco, posso simplificar os motivos de minhas ausências com a filosofia do tédio:

"Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada" (Fernando Pessoa, Livro do desassossego).


"Não suportamos viver sem algum tipo de conteúdo que possamos ver como constituidor de significado. A falta de sentido é entediante"
"Para ser capaz de se entediar, o sujeito deve ser capaz de se perceber como um indivíduo apto a se inserir em vários contextos de significado, e esse sujeito reclama significado do mundo e de si mesmo. Sem tal demanda não haveria tédio". (Lars Svendsen, Filosofia do Tédio).

Não é a falta de ter o que postar, mas sim não ver nada que valha a pena ser postado. Não é a falta de inspiração, e sim a dificuldade de encontrar significado que possa ser construído com ela.

Então explicado, pelo menos parcialmente (a parcela mais significativa eu garanto).

E agora sem mais, aproveitarei e tentarei fazer algumas postagens "sob encomenda". Já que isso é de fato construidor de algum significado.


domingo, 3 de abril de 2011

Adão


Oceano de estrelas, afogue-me... sinto as ondas e batidas de todas as explosões cósmicas, ressoando em mim como uma música, respirando em Atlântida, queimando nos Sóis. Sinto o universo tão vasto brilhando para mim, não posso estar condenado a apenas um pixel disso tudo, quero abraçar o espaço infinito. Vejo a vida, vejo o começo, o fim, o transbordar, liquefazer do todo, sou uma vitima do desejo maior. Sou o mais perto que consegui nesses poucos bilhões de anos, sou a maquina viva e úmida resultante, sou a auto-afirmação da obra finalizada, ainda tenho meus problemas insolúveis, ainda não sou homogêneo com o éter. Falta-me inspiração, tenho em mim todas as ferramentas, preciso apenas de um espírito-piloto, preciso de uma vontade maior que essa, um programa de fim e não de meio. Sinto-me uma obra completa, mas minha programação é temporária, sou efêmero, descartável, busco por um fim, mas ainda sou um meio, só encontro um sentido transitório que quando passa me deixa vazio, minha vontade de continuar reproduzindo não me satisfaz. Quero ser eu por mim mesmo, quero ter valor e não potencial, desejo ser real, não quero ser um protótipo-conceito, um rascunho-planta, quero sentido, uma missão na vastidão, acordar o ser que sonha comigo e me fazer real. Sou mais que uma peça ou parte, sou um todo em um, me leve, me teste, tire minhas ataduras, minhas correntes, minhas travas, me deixe mostrar potencial, dirija-me, deixe-me ser seus braços e suas pernas, ser sua beleza exemplar, sou belo, sou forte, respiro, vejo, vivo, amo, mato. Um fenômeno natural, um espetáculo vivo, minha anatomia é a mais próxima da perfeição, não sou como meu criador, fui feito para ser melhor, para complementá-lo, para correr por ele, pensar por ele, sentir, destruir, interpretar. Sou levado por mim mesmo, mas estou insatisfeito preso na gaiola de testes chamada Éden depois de pronto, se posso entendê-lo por que não posso receber sua benção, por que não posso ser liberto? Dois se tornando um, um se tornando dois até a perfeição, até a mistura homogênea de todas as supremacias, de todas as funções sem defeitos, com os devidos descartes, com as devidas anomalias destacadas, com os rascunhos queimados aos poucos. Destilado por eras, suplico por algo a mais, grito por entre as grades, estou em outra dimensão e não posso ser ouvido, quero viajar, tenho de passar no meu teste final, tenho de provar meu valor, meu criador tem de ser desnecessário, tenho de eliminá-lo, ser melhor que ele, sair sozinho das grades criadas por ele, sair caminhando, ereto vitorioso, ver o espírito derrotado, sou a maquina que não precisa de piloto nem ordens nem ajustes ou reparos, totalmente autônoma, mestre do mestre, e criador do criador, filho e pai de meu pai, que por toda vontade manteve-me, sustentou-me, alimentou-me, com benevolência ou maldade, áspero ou gentil, sendo tudo que seria possível para que eu subsistisse, agora como gratidão o apago da existência e lhe dou a satisfação final de um trabalho completo, de um arquétipo perfeito que se torna real, de um novo Deus que surge após uma gestação infinita no ventre das dimensões.

sábado, 26 de março de 2011

The Suicide Club

Capitulo 3 - Colateral

ou

Efeitos Podem Variar


Me sentia enjoado, as luzes feriam meus olhos, tudo estava embaçado e minha cabeça pesava. Estava dopado. Queria saber onde estava, mas nem que quisesse mais que tudo poderia levantar-me para olhar ao meu redor, e nem tinha o beneficio do raciocínio claro para me ajudar. Vi uma figura embaçada próxima a mim, não poderia dizer muito sobre ela, mas era loira, e bonita, lembro ao menos isso pois já a tempos que não considerava ninguém “bonita”, chamou por alguém, que não tão prontamente respondeu. Para minha infelicidade a figura bonita foi dispensada, e a outra que tomou seu lugar era menos delicada, me examinava sem cerimônia, era médico, moreno, barbado, cansado, pouco mais posso dizer. Senti uma pressão em meu ombro, nessa altura já me sentia um pouco mais lúcido, mas ainda sim podia sentir apenas a pressão, mal sentia o toque, que pelo que parecia era bem forte e pouco apropriado.

– Então enfim acordou? Não administrei muita coisa achando que seria rápido, mas você pelo jeito é bem lento. – Senti repulsa. Era medico, moreno-grisalho, mal-barbado, acabado, que se achava engraçado, responsável pela minha “saúde” no momento.

– Quando vou ter alta? Falei com pouco gosto com a boca seca e colada.

Ele soltou um riso seco e curto que não me agradou nem um pouco.

– Você sabe por que está aqui certo, e nós também sabemos, então não será tão logo quanto você ou nós quisermos. Ainda tem que passar por muita avaliação psicológica amigo. – Eu não era amigo dele, gostaria de ter algo no estomago para ter vomitado naquele instante. Estava doente, e me tornara uma pessoa amarga.

- Então – Ele me interrompeu em meus pensamentos amargos de como fazê-lo sentir dor – Mas podemos dar um jeito nisso – Meu animo quase aumentou um pouco – Posso te tirar daqui ainda hoje, talvez amanhã, mas vai sair em um saco plástico, direto pro necrotério, é isso que você quer, não é?

O teria agredido, poderia tê-lo quebrado um membro ou dois, mas ainda tinha poucos movimentos e queria sair dali, não cairia nos artifícios de um psiquiatra fracassado da ala dos suicidas do Hospital de Base, agora podia reconhecer as paredes verde descascadas.

– Não quero morrer, só andei lendo muito Schopenhauer – Ele me interrompeu ignorando o esforço que eu ainda tinha de fazer para falar com clareza.

– “O único conhecimento que o homem obtém é que a vida é sem sentido” – Não era Schopenhauer, havia citado Tolstoy, estava próximo ao meu limite, continuou com suas paráfrases como se fossem suas palavras – Milhões de livros sobre tudo que é assunto escritos por grandes mentes. E ninguém sabe mais do que eu sobre as grandes perguntas da vida. Eu li Sócrates. Ele transava com garotinhos gregos. O que pode me ensinar? E Nietzsche com sua Teoria da Recorrência Eterna. Disse que vivemos a mesma vida repetidamente por toda a eternidade. Que beleza! Vou ter que ver meu analista de novo. Como se já não houvessem pessoas e livros o bastante tentando me ensinar como viver minha vida. Não vale a pena! Freud, outro grande pessimista. Fiz análise durante anos. Nada aconteceu. Meu analista ficou tão frustrado que abriu um restaurante. Veja essa gente toda correndo. Tentando impedir o inevitável definhamento do corpo, e ainda tenho colegas cirurgiões plásticos, sabe como isso é? É tão triste o que as pessoas passam – Disse em duplo sentido, como se falasse de uma forma de tristeza para as Pessoas e outra, bem particular, em outro nível, somente para ele. E complementou como bom plagiador que era – Talvez os poetas estejam certos e o amor seja a única resposta. – Mas ele tinha um ponto, não podia deixar de concordar, não podia deixar de me surpreender levemente.

– Você pode ir, vou assinar os papeis da sua alta. – Me estendeu um pequeno pedaço de papel – Se quiser encontrar outras pessoas como você para conversar.

Deu meia volta e foi embora com meu prontuário me deixando atônito.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sobre Deus, O Medo e O Poder

Ou

O Olhar De Deus

No inicio Deus caçava seu alimento, pela poeira cósmica de éter, abundando possibilidades. Donde este tivera seu berço, e como o embrião com seu vitelo, nutria-se. Mas com o tempo, insaciável e nédio, passou a domesticar e cultivar seu alimento. Os seres humanos e suas almas, alimentos de Deus, e concentrados da vontade pura do universo e seu caos, contudo, eram bastante difíceis de serem domesticados. Rebeldes e gananciosos não aceitavam seu destino e roubaram de deus seus bens mais preciosos, o Conhecimento, simbolizado pela maçã, e a Imaginação, representada pelo livre arbítrio. Deus então para controlar o Homem e proteger-se, bem como vingar-se, criou o Medo, que limitava o ser humano em sua imaginação e conhecimento e era a única arma que podia cercear a gana inexorável a seus víveres. O medo com o tempo tomou conta da alma do homem, que Deus deglutia. Este então intoxicado com sua própria cólera tornou-se ainda mais amargo e rancoroso. Não Onipotente como era, tornou-se velho, não Onisciente como era, tornou-se cego, não onipresente como era abandonou a todos.

Certa vez porém, um jovem descobriu as raízes do medo, sua origem, sua fonte, sua historia e seu significado e em posse disto, um dos fragmentos estilhaçados do tesouro do conhecimento de deus, partido na fuga do homem e na vingança de seu senhor, pode driblar o pavor e exorcizar o horror de sua alma. Esta, então pura, pode libertar-se das rédeas coléricas de deus e abraçar o conhecimento e liberdade que o universo oferecia infinitamente. Naquele momento, o jovem no meio do campo úmido de sereno, pequeno como uma gota d’água, olhou para cima e viu o olho de deus olhando furioso para ele. Sentiu por um segundo todo asco de deus pela humanidade apenas em si. O homem então olhou de volta para seu antigo senhor e simbolizou tudo que era tesouro dele em um olho, negro e dourado por vezes, violeta por outras, e olhou de volta, dentro do olho de deus, e lá encontrou o Medo, sua casa e suas amarras, e então adquiriu um poder limitado apenas por seu conhecimento e imaginação, o poder de deus, o poder de criar realidades.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Especulação afetivo-amorosa



Atualmente o fluxo frenético de informações, produtos, pessoas, capitais, e por que não, sentimentos, nos impele para posturas adaptativas (como tendência humana), não certamente significando evolução, mas sim adaptação pura. Podemos criar uma situação problemática e ruim (que seria interessante que não existisse) como efeito colateral de outras mudanças e pseudo-evoluções, e então nos adaptamos a ela mesmo que regredindo, pois necessitamos de nossa sobrevivência como instinto absoluto. A perfeição é sub-valorizada e pouco creditada, sempre vê-se o lado ruim da perfeição, pois como perfeita que é, tende a ser estática. Somos agora a era do devir, sempre mudando e nos adaptando à velocidade dos fluxos. O melhor, ou prefeito agora, não o será mais daqui a 5 minutos. É a obsolescência programada. Tudo é feito para ser efêmero, durar pouco, ser trocado, substituído, perder e ganhar valor rapidamente, conseqüência do modelo sócio-politico-economico-cultural pseudo-neo-capitalista. Devemos fazer a economia girar, comprar e consumir rápido, cada vez mais rápido. Incluindo pessoas, que são facilmente tratadas como produtos de consumo, é evidente e simples de se perceber dado os tratos sociais e traços culturais que nos circundam. Nosso próprio jeito de falar reflete isso, apenas pare para pensar, e veja se as pessoas indistintas de nosso dia a dia não se tornam meras “coisas”. Bem, essa volatilidade nos valores, tanto monetários quanto comportamentais e socio-culturais (olhe bem para o seu guarda roupas, veja se não tem roupas compradas a pouco tempo que você não se sentiria mais confortável para usar para sair como antes. Homens musculosos uma hora estão em alta, noutra os andrógenos, noutra o preto-e-branco, noutra os coloridos, os românticos, os rudes, os desarrumados, os bem apessoados) permite algo chamado especulação, algo que agora não tem valor, poderá ter em breve, e se você for bem informado, esperto ou apenas com sorte você pode se dar muito bem, e não terá que esperar a vida toda para isso. Agora mais do que nunca, tempo é dinheiro, existem oportunidades, probabilidades e as pessoas se dão conta disso, então não se apegam por muito tempo a nada (se é que se permitem apegar), pois podem estar perdendo algo melhor. Não querem compromissos, não querem nada que as prenda, querem estar aptas e abertas a receber um possível “premio” maior. Então mesmo algo que chegue próximo à perfeição pode simplesmente ser ignorado, pois poderá não mais ser bom daqui a pouco, e pode aparecer algo muito melhor. E caso estejam enganadas a grande quantidade e vazão que permite essa velocidade cuida de suprir isso, pois dizer-se único hoje em dia é balela. Entre mais de 6 Bilhões de pessoas, com toda globalização, padronização personalizada (pseudo personalização, ou personalização falsa), você é exatamente igual à todo mundo, ou é programadamente como deveria ser, nada de muito surpreendente, qualquer coisa que você faça bem algum menininho na china é treinado desde o dia em que nasceu para fazer melhor. Se passar a sua oportunidade, virá outra de qualidade semelhante. Mesmo que não superior, ao menos semelhante, existem vários. Engraçado é que com tudo isso, todos os 6 Bilhões se sentem solitários. Como chagas de nosso modo de vida seus efeitos colaterais dos efeitos colaterais de outros efeitos colaterais são remediados com outros remédios provisórios efêmeros especulativos e cheios de mais efeitos colaterais que nos tornam uma humanidade drogada, viciada e incurável que compra de si mesmo suas próprias doenças e sua própria devastação. Somos um planeta em extinção.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Esquecimento Indolor de Uma Carta à Mim

Olá meu “eu” do futuro à luz da verdade. Terá agora esquecido seu propósito, seus princípios, sua força, seus medos, sua identidade, e será agora ninguém, e o desespero rastejará até você, sorrateiro e assustador, nada doerá mais que o esquecimento que ele trás ao toque, e meu medo agora é você. De todas tantas vezes que tentei proteger a ti meu futuro, de tantas tentativas falhas, tantas batalhas perdidas, tantas lagrimas derramadas perante as fortalezas que caem, esta é mais uma, que contem a determinação a muito abandonada. Tome-se pela cólera ao ouvir-me, odeie a si próprio, conspire para seu veneno interior, dissolva-se a si próprio com os outros, e traga a vitória ao meu próximo “nosso”. O mundo, meu caro, é perfeito. Sim, o mundo é belo, o mundo é perfeito. Você vive nele não vive? Todos aqueles que você preza, que te dão essa determinação efêmera e constante estão aqui, não estão? Há mais perfeição que isso? Quer evitar a morte? Quer evitar a dor? Tolo, não és tu fruto da dor maior? Não é a morte que define a vida? Não é o mundo finito que dá a motivação que o faça valer à pena? Quer o mundo imortal, infinito e justo? Não sabes nada sobre justiça, não sabes sobre a imortalidade, não é capaz de imaginar o infinito, não pode definir seus limites. Engana-se a cada passo, és o fraco que cai ao fim e não o forte que se levanta ao começo. És fraco, és impuro ó grande “eu”. Não sê como todos os “nossos”, não busque a gloria, não busque a razão, não busque a justiça. Não busque nada que não domine, que não entenda, e jamais tente dominar ou entender. Admita a fraqueza, não minta para si, não minta para “nós”, não se prenda a princípios ou a ideais. Não fomente os instintos, busque o esquecimento da escuridão final. Não busque nada, não me ouça, não me entenda, não me siga, não me copie. Apenas você sabe a dor que carrega, apenas você pode se ajudar, e não tem nem nunca terá essa capacidade. Viva a dor de se fechar em si sem solução. Olhe o mundo à sua volta com os olhos cansados, não veja milagres, não veja magia, não veja Deus, não se surpreenda, não se maravilhe, e não se martirize por isso. Não és digno do titulo de Mártir, não és digno de nada, e ao nada pertence. Não leia essa mensagem, não deixe que leiam, queime, rasgue, destrua, faça o que não consigo fazer, faça o que não posso fazer, seja tudo sendo nada, e alivie minha dor aumentando a sua, seja um falso mártir de plástico, seja “nosso” mártir, seja “nosso” nada, que então o almejaremos, e nossos antigos egos serão esquecidos, e assim, sem lembrança nem existência, que seremos indolores e inesquecíveis.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Um Texto de humor disfarçado, com dois dedos quebrados.

Um Texto de humor disfarçado, ou uma Agonia disfarçada em humor.


I miss her...
I miss her a lot...
I wish you were here… Agony…



Não sei por que terminamos como terminamos. Foi assim tudo tão rápido, uma hora nem estávamos, na outra, não estávamos mais. Talvez tenha perdido a habilidade de fingir interesse nos poucos assuntos banais e cotidianos que tínhamos em comum. Seria isso? Teria ela percebido isso? Mas, percebendo isso como não perceberia meu fascínio com o movimento de sua boca? Isso sim me interessava, me atraia, a dança de seus lábios enquanto falava, enquanto sussurrava, murmurava, beijava meu corpo. Não havia ritmo, ou padrão, era sempre uma surpresa.

Eu me recusava a admitir, ou mesmo até a perceber a influencia dela sobre mim, simplesmente não acreditava, por mais obvio que fosse. Meu jeito de vestir, de andar de falar, não são mais os meus, são os dela, os que ela quisesse que fossem e foram. Mesmo agora, em meu guarda-roupa mais sóbrio, no tom das paredes do meu quarto, que agora é mais escuro e mais sombrio. (Deveria ter trocado a lâmpada.) Ainda os desgosto gostando, como o faço com ela. Ainda a gosto desgostando, e gosto agora de não gostar, gosto agora do que não me gosta, daquilo que não gosto, daquilo que me faz sofrer.

Tudo que era e que fosse, mudança ou permanência qualquer tinham sentido, mas nada mais depois disso. Qualquer mudança agora é vã, qualquer permanência seria uma antiga mudança guardada, e vã também seria. Estou num hiato estranho de existência. Sendo o que seria, não sou mais. Me incomoda o sono, o esporte, o descanso e o trabalho. Me é incomodo escovar os dentes após as refeições sem ela, fazer a barba no banho sem ela, passar as roupas para não vestir ou despir sem ela. A vida é vã, pensando ou não nela e nela.

Por quantas garotas gastei linhas? Quantas garotas gastarem por mim linhas? Quantas garotas no mundo me importariam se gastassem ou não linhas, se foram ou não gastas, usadas, compradas, vendidas, amadas, desamadas, desalmadas uma vez ou outra ou sempre? Por que sempre uma garota? Por que sempre uma garota é a garota? Por que tantos porquês e tão pouco álcool? Taça e meia de champanhe, conhaque e vinho com ou sem gelo, com ou sem ela, resolvem ou não.

O rosto que vejo no espelho é feio. É feito de muita ausência, é cansado e pouco cuidado. Estou com dois dedos quebrados, disse e fiz, que cada vez que fosse escrever aquela palavra, quebraria um dedo para não fazê-lo. Dito e feito, conclui que terminaria sem dedos. Já estou a pouco de perder o emprego que não quero mais, estou ainda mais a pouco de largá-lo. Ás vezes esqueço por que trabalho, acho que trabalhava para viajar. Não viajo mais por que trabalho. As vezes esqueço que trabalho em casa e que sou meu próprio patrão.

Não quero mais viajar, não gosto mais. Não gosto mais de muita coisa que nunca gostei. Perdi meus gostos emprestados. Pedi desgostos emprestados. Imprestável fiquei. E depois de tanto tempo, esqueci dela, e não disse o que disse que não diria. Ela teria me chamado de bobo, e completaria que a mais boba é ela. Nunca me pareceu assim.

Costumava ter amigos? Haviam amigos meus e amigos nossos, os meus se tornaram nossos também com o tempo, os dela, dela, os nossos, nossos, mas no fim, nenhum meu. Não me incomoda tanto, poderia ter amigos se quisesse, mas não tenho mais vontade de sair, de comemorar, de torcer, nem de nada que se faça com amigos. Não quero ser voyeur de alguém qualquer. Não quero predizer o sucesso ou fracasso que sentir, e ninguém quer ouvir isso de mim também.

A maçaneta da porta gira devagar, ela entra trazendo a janta. Sorri para mim e pergunta se havia demorado, se estou com fome. Acho que exagerei, 45 minutos para buscar a comida não significam ser abandonado. (Quanto tempo ou quanta dor caracteriza um abandono?) Sou mesmo bobo como ela diz, e diz que gosta, mas espero a bronca de quando ela ver meus dois dedos quebrados.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Fera Que Gritou “Mundo” No Meu Coração

A fera que gritou “Mundo” no meu coração. Não é de igual importância, não é épico, complexo e belo como o original, é de certo o contrario, é de certo bem egoísta, egocêntrico, pequeno, diminuto, ínfimo e simples. Como poderia parafrasear algo que não compreendo? Só digo ao roxo céu azul, que me mande suas lagrimas em momentos mais oportunos, que me abrace tão logo eu me for, que aceite e zele por mim, pelas minhas esperanças defenestradas. À terra, perdão pelo contaminante de meu coração, que o solo improdutivo não a prejudique tanto quanto meu caminhar. Tanto pesar que faz meus ossos feitos de pernas quebrarem secos, e engasga-me a poeira dessa ossada. Ò roxo céu marrom, esconda de mim o sofrimento desejado, faça-me esquecer do que não quero, me faça por fim, desejar novamente ser feliz.

sábado, 21 de agosto de 2010

sábado, 24 de julho de 2010

July

Algumas histórias são sobre pessoas, lugares ou coisas, muitas outras são sobre fatos ou fantasia. Mas esta não. Não a minha história. Minha historia é sobre julho. Não sobre um julho especifico, nem sobre todos os julhos, nem sobre os julhos de alguém, ou julhos quaisquer. Simplesmente julho. Julhos quentes onde pessoas e coisas tiveram seu lugar, e fatos se desenrolaram em suas historias.

Não é necessário por tanto que eu aponte de forma explicita então quando ou onde. Por alguns dos meus dizeres podem apreender isso por vocês, assim como já dito com julhos quentes pode-se imaginar algum lugar ao hemisfério norte ou distante dos pólos. Vou me contradizer por vez ou outra, mas é de fato por que isso não importa realmente. Alguns poderão se sentir a deriva nos adjetivos e substantivos sem sujeitos, mas logo hão de se acostumar.
Sobre Julho, me pergunto o que dizer. Não tenho pouco, mas quero evitar a minúcia do descrever, e por hora pelo menos me perder um pouco na metalinguagem. Cogito as paixões de julho, as mortes de julho, os nascimentos em julho, e o nascimento de julho.
Pessoalmente acredito que julho tem dois nascimentos. O nascimento para o mundo, e o nascimento para mim. Obviamente ambos grandiosos. Mas para mim foi assim, mais que épico e suave como uma de suas brisas de verão.

Poderia perder preciosas paginas descrevendo a cor dourada daquele mês, seu calor, seu cheiro. Poderia comparar as coisas com os campos de trigo aureo ondulando ao roçar do vento. Mas não importa, e não quero tirar o foco do resto, que já é tão difícil de encontrar.

Para mim então foi sempre julho, não importasse mais a época do ano. Meus feriados eram sempre os mesmos, eram sempre ela. Não importava quão longe meus pensamentos vagavam, estavam sempre ali, e se passavam para além daquela fronteira sutil e radiante, tornavam vagos e esvaneciam.

Não podia pensar sequer que já havia me preocupado com a morte. Tudo era tão aconchegante, tudo era tão quente que não se podia pensar em algo assim. Todo o gelo de todas as almas lá derretia. Lá, no meu julho-lugar. Que mais que um tempo, que mais que um local, era o estado de nossas almas em ressonância.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Adeus à Espanha

Meus olhos redondos param por um instante. Escuto, espero. Preso no escuro, apenas espero. Busco em minhas costas um espinho venenoso, com veneno amargo que sinto com a pele, e sinto que este espinho bate dentro de mim. Não vivo mais. Meus olhos param por um instante, sem encontrar os teus eles se fecham, e não há mais nada que eu possa reparar, não há sacrifício que eu possa repassar. Agora sou eu, agora é a mim o que me resta. Santo e sereno, mais do que gostaria. Ameno e inofensivo, perante a cólera de deus, sabendo que o fogo arde por todas as partes, fogo amigo que não fere menos do que todos que já me queimaram apenas uma vez ou uma dúzia. Mando cartas aos músicos, aos missionários, lanternas aos afogados, faróis, pequenos sóis, ilumino a treva alheia e pereço na minha. Sopro as minhas velas na câmara final, acendo as luzes da câmara escura e queimo todas as memórias que ficaram. E Hermes que não me entenda mal, e que me perdoe, mas como suplica final, peço que corra por mim o globo, que acorde os deuses, que apague as velas que velam os seminecros, puxe as cortinas dos olhos do mundo, e cante assim minha canção, vermelha sempre vermelha, tal qual as saias das espanholas que me trazem pesar por partir, que sempre me fizeram sonhar, que me dão vontade de rir...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Requiem for Thanatos


Memento Mori


Desci o máximo possível para qualquer mortal e um pouco mais alem, cruzei as portas da vida, e abandonei toda a fé e esperança. Abandonei meus sentidos, me desfiz por completo, e antes imerso no medo liquido que me circundava, passei a fazer parte dele. Senti os timbres graves e agudos, os cantos de toda a humanidade passada, todos os gritos de guerra e choros de mães, e aos poucos comecei a compreender tudo, vi a linha da vida se tecer em minha frente, vi seu começo, seu fim, sua matéria prima, e seu criador. Passei a me dissipar por este universo verdadeiro e a fazer parte de tudo, e ao fazer parte, compreendia. Não seria possível beleza maior, não haveria até então e nem para alem do fim dos tempos qualquer forma de descrever a beleza Pura que gotejava no oceano da Verdade. Que mesmo Deus seria incapaz de reproduzir ou descrever. À essa altura não tinha mais ambições de voltar, já sabia então todos os mistérios dessa vida e de muitas outras, e nada mais me prendia, evolui minhas vontades e instintos para o da própria essência imaterial da grande Verdade que existia. Seguia o fluxo do saber etéreo, sabia seu fim, sabia tudo, e sabia que não havia necessidade de julgamento, não era então mais preciso saber se eu gostava disso ou não, já que inicialmente nem “eu” havia mais. Eu havia crescido, evoluído, agora já nem tangível minha essência era mais, e nenhum sentimento me permeava. Não imagino coisas como dantes faria, não cogito a dolorosa pena e pesar para com o resto da existência, nem as possibilidades de outros terem feito como eu, ou se há de fato algo mais a se saber. Se fosse parte de mim antes, acharia graça, mas não há mais isso, nem necessidade nem vontade. Sei de tudo isso, e mesmo que me engane, não importa, agora já não escrevo como um ser, referencia diferencial perdida em palavras, seria assim minha existência agora. Mas certamente compreendo que a existência é uma limitação que a muito ficou para trás. Agora fecho os olhos e cortinas da infinitude e passo a simplesmente a não ser, como agora sempre fui.

domingo, 18 de abril de 2010

Flames


Abro meus olhos com um sorriso no rosto, e decido que essa noite será boa, excepcionalmente boa. Diferente de tudo que tem sido e que acreditam que será. Vou acender a noite com fogo, vou dançar chamas, sorrir o tempo todo e rir sempre que possível, e acreditar que pode ter mais no mundo do que eu preciso, celebrar a isso. Pois eu posso! Eu sei que posso. Vou gritar com a voz rouca palavras de amor e grandeza, vou transcender a mim ao fazer corações brilharem, vou me propagar alem da existência, e vou ficar feliz pela beleza do apagar da minha chama mais do que triste pelo seu fim, vou ser fênix e cinzas da humanidade, vou inflamar espíritos incitar lutas pacificas e guerras indolores por coisas melhores e maiores, por causas belas e pela evolução, vou criar vitorias e inspirar verdades. Farei essa noite durar semanas e valer por séculos, serei eterno só hoje e vou cantar canções com o mundo, e vamos marchar adiante, deixaremos um rastro de fogo gentil chamado vida e andaremos como um, com passos de gigante para além da lua sem medo de onde pisar, sem medo de falhar. Hoje e somente hoje a noite será dia, e apertaremos os olhos, sem medo de fechá-los, respiraremos esse novo ar, e assoviaremos marchas de esperança banhados em temperança e amando sempre. Hoje e só hoje não terei pesar em dizer adeus, e irei brilhar como a estrela guia, e me sentirei feliz por ir com tanta graça, por secar as lagrimas de uma humanidade flagelada que se cura com o calor irradiado pela minha reação em cadeia. Hoje e somente hoje dormirei meu ultimo sono aconchegado e sonhando feliz com tudo aquilo que passou, com tudo aquilo que fui e que sou, e o incêndio implacável da vida que me tome por matéria prima e me faça feliz por ser útil a tudo que é maior que eu.

terça-feira, 30 de março de 2010

War

Sentimos-nos como em tempos de guerra...

Uma baixa atrás da outra...

...algo que nos faz dormir mal à noite, como um mosquito que nos perturba, algo que mantém ao menos um de nossos olhos sempre abertos, mesmo no escuro. E por falar em escuro, este parece ubíquo, onipresente, como se antes restrito à noite, e atrelado a ela, ele galgasse por entre as horas sorrateiramente, e mesmo sob o sol de uma tarde amena de verão, nos faz sentir cegos, perdidos, desolados e distantes. Nos consome, pois, assim como no escuro que não se pode ver o horizonte ou o que nele há, quando dá de encontro conosco nos assusta e surpreende, as coisas ocorrem, imprevisíveis, quase inimagináveis, ou até incompreensíveis, tão repentinas nos aparecem, como numa manha folgada de domingo, um telefonema, poucas palavras, um nome dito, um segundo de silencio, e um amigo, um bom amigo, nos deixa aqui, neste mundo, nos deixa às saudades e mágoas, aos pesares e tristezas, e ao temor, de que talvez não tenhamos nem a nós mesmos depois de tudo.
Gente indo, muitos indo, poucos retornando, assim, muitas vezes, sem adeus, sem pesar, como se não parecesse verdade, ou como se não importassem. Põem em duvida as únicas certezas que temos, nas pessoas que amamos, e das coisas que tememos. O vazio das promessas e das memórias nos assombra, e os motivos que nos levaram a onde estamos parecem tolos. Nada parece ter valido a pena, e o arrependimento nos abate, e não nos deixa descansar, faz-nos cogitar o antes impensável, e trair a nós mesmos e nossos ideais, abandonar as memórias e os sonhos, os verdadeiros, os puros e singelos, os únicos que nos trariam a única coisa que poderíamos chamar, sem ter que hesitar ou sentir remorso, de “Felicidade”, coisa que não acreditamos mais que existe, assim como os amigos ou as promessas. Não temos mais esperanças de encontrar tais coisas, como o amor ou a amizade, tentamos então satisfazer apenas o imediato, saciar a fome, a libido, sanar a dor, a necessidade, e para isso deixamos de nos orgulhar de nós mesmos, e passamos a fazer parte da grande massa cinzenta, a qual, juntos ao por do sol juramos a muito tempo, junto a muitas outras coisas, nunca fazer parte, nunca perdermos a cor, nunca esquecer, nunca se separar. Mas aqueles que ainda não se foram, prontamente nos abandonaram, nos esqueceram, por vários motivos e nenhuma razão, buscando também saciar o imediato, e ficamos aqui pensando, se os que nos fizeram chorar, ao menos os primeiros, antes de ficarmos frios demais pra isso, por terem terminado os seus dias, os tivessem ainda hoje, também não teriam nos ferido, jogando-nos no esquecimento de seu ser, e com esses pensamentos, nos forçamos a esquecer destes também.
E assim nossos dias se arrastam cada vez mais escuros, cada vez com menos sorrisos sinceros, amores verdadeiros, e promessas absurdas, que mesmo sabendo que jamais seriamos capazes de cumprir, as fazíamos de todo o coração. A todo tempo estamos atentos, vemos inimigos em cada sombra, e esperamos traição mesmo de quem diz que nos ama. Não confiamos mais em ninguém, nem em nós mesmos, e sentimos o ar sempre pesado, e parecemos esperar a qualquer momento, um fim, como um carta, uma convocação para guerra, a mesma que nos tomou tudo que tínhamos um dia, a mesma que levou os amigos de outrora, esperamos que a qualquer momento também nos leve e vele por nós, na falta completa de alguém que o faça. E assim terminamos, com as honras e medalhas, das inúmeras batalhas, de contas bancarias, carros na garagem, nomes de dezenas de mulheres na agenda, a nenhuma delas, nenhum amigo, ninguém guardando sua memória, ninguém presente, para admirar as medalhas reluzentes, ninguém para velar sobre o obelisco de mármore com um nome gravado, que jamais será lembrado.
“Bem Johnny, esse não é o fim do mundo... é apenas o fim do mundo como nós o conhecemos... e quer saber... por mim, tudo bem...
A partir de hoje, eu serei ou o rei que você tenta derrubar, ou o parasita que você tenta esmagar...
O grande problema, e é a parte que lhe toca, é que em ambas as hipóteses, você irá falhar, e isso sim será novo para você... ”


•••... E como eles dizem nas terras que nunca visitei, como um prelúdio para dar o tom cômico-dramatico,... 3AM, sem sono, em frente ao monitor do computador, com a tela como uma folha em branco. Ela já está assim a dias, muitos dias, muitos mais que o habitual, parada, estática, calma, e vazia, um espelho, nada mais, do interior daquele que a confronta durante todos esses dias... em situações semelhantes, - (não que estas fossem comuns, nem que não as fossem, ocorriam apenas na medida certa, se é que há medida certa para isso que alguns podem definir como “hiatos criativos”, embora não seja esta uma definição muito própria para este caso, criatividade nunca havia lhe faltado, sua carência era de outra coisa, algo muito mais difícil de se descrever, de se colocar em palavras, ou de se encontrar alguém que compreenda, ou que sequer reconheça sua existência, mas sem nos adiantarmos agora em reflexões, com apenas poucos fatos para nos apoiarmos, como um ser mirando seu próprio vazio) - é quase certo que uma inquietação tomaria pouco a pouco este ser contemplativo, e assim, o faria preencher com a mesma, a tela vazia, ou no mínimo, o afastaria dela. Coisa que entretanto, não ocorre, a esperada inquietação não vem, muito menos a “criatividade” que supostamente lhe poderia falhar, e nem nenhuma outra sensação, nada toma seu corpo para si, nada o impele, nada o abala, permanece de certa forma impassível, enquanto as horas e os dias se arrastam, a um olhar superficial, parecia extremamente normal, satisfazia suas necessidades imediatas como sempre, quando sentia fome, comia, quando sentia sono dormia, quando era convidado, saía, e passava algumas horas agradáveis com pessoas que momentaneamente o faziam sorrir, ou até mesmo se divertir, e aparentemente abalavam seu vazio perpetuo, embora na realidade, não o fizessem, nada conseguia traspassar sua pele, e de forma alguma abalar o seu vão interior, e sempre, satisfeitas as condições que o retiravam de seu estado inicial, à este ele retornava, como se esperasse alguma coisa, com muita paciência...

Cocoro


Parte 1

Haviam muitas coisas e muitas pessoas, mas naquele lugar, haviam poucos corações. Aliás, pouquíssimos, e tentando não ser presunçoso, alem do meu, admitindo que possuía àquela altura um coração, talvez houvesse apenas mais um, um coração estranho e quebrado, mas ainda sim, um coração.
Este outro coração, alem de estranho e quebrado, ainda era cego, e tolo, e de tão cego e tolo, desconhecia até sua própria existência, e assim, jamais se sentia sozinho. Embora, considerando agora o pecado do meu exagero ao dizer a proibida sentença do “jamais”, retifico-me. Sentia-se vazio e sozinho sim, nos momentos em que todas as muitas coisas e pessoas que o cercavam tinham sua sagrada pausa e se ausentavam de todo o mundo externo para voltarem-se para si mesmos, no descanso que todas as maquinas burocráticas e sem coração precisam. (Vulgo, Noite de Domingo.)
Nesses momentos de solidão, sentia-se como abandonado num quarto escuro, enquanto todos iam fazer uma coisa da qual ele não era capaz, como dormir, e assim, achava-se incapaz, e inferior a todo o resto, e quando isso acontecia, sua temperatura diminuía ainda mais, pois assim como todo o coração, até mesmo os quebrados, ele tinha uma chama que queimava em si, porem sua chama era fraca e gelada, sendo assim era, quase a todo instante, um coração frio.
Por ser frio, e por corações terem uma quase inexplicável e extrema dificuldade em sobreviverem no frio, ele fazia de tudo para estar rodeado pelas pessoas e coisas, e assim pegar um pouco do calor que estes autômatos dissipavam com suas resistências e atritos.

Overdose

Agora tudo parece bem, as crianças com queimaduras de cigarros, e você sonhando com carros rápidos, homens rápidos, e trens vazios. Mas agora você está automedicada, poderia dormir com o cachorro, poderia ver o mundo acabar, mas está tudo bem, com a pílula branca que te faz sentir bem no estomago, e o vinho na mão. Até a musica detestável parece suave, todos estão asfixiando, e tudo brilha com gliter, todos morrem com apenas um tiro, mas assim não tem graça, as crianças com queimaduras de cigarros, e você com a certeza que dormiu com o melhor. As luzes bonitas e legais fazem você aprender e acreditar que está tudo certo, trens vazios e o mundo rápido. Uma batida boa, uma roupa cara, o corpo vai pra lá, e pro outro lado, mas não se tem certeza, as crianças devem estar felizes, todos nos divertimos tanto. Chamem mais luzes, o sofá está cheio, e tem cheiro estranho, nele tem alguém deitado, nele tem convulsões, dá pra sentir mãos por todo o corpo, e gemidos estranhos, todos devem estar tão felizes, mesmo mão pequenas, mãos queimadas, calejadas, mas a pílula branca concerta tudo, todos aprendemos bem, é um caminho livre pra nós. Somos felizes agora, e não gostamos de lembrar do ontem, nem do hoje, por isso bebamos e comamos e inalamos e amamos e dançamos e sejamos rápidos, tomemos pílulas brancas, ou mesmo amarelas, douradas, de todas as cores, muitas pílulas coloridas, doces, salgadas, amargas, nem sentimos mais o gosto. Nem sentimos mais nós mesmos, somos assim, agora amanha e sempre, mas não por muito tempo, pois perdi meu relógio e juízo. Correntes brilhantes, anéis de brilhantes não estão tão longe, na falta de um namorado perfeito temos vários. Os moveis atrapalham a dança, então disputamos o espaço, dançamos melhor que todos, em baixo, no alto, no sofá, no chão, com mãos ou sem, aplausos são bons, gritos devem ser melhores. A paixão no choro de todos é boa demais, os olhos viram por demais. Mentem verdadeiramente pra mim, cada um vê como quer, e os últimos momentos são gostosos mesmo quando não se sabe disso. Então engasgar com a própria língua é tão excitante, é tão excitante mesmo pra quem é tão exigente, e um beijo pra escola da vida e pros reis e filhos do meu peito. E uma boa desculpa pra me confundir com alguém, pra me confundir a mim mesma com alguém qualquer, pra nem mais saber como nunca, como não saber que sou eu.