Parte 1
...E eu --Certo, certo Felícia, se é tudo q você tem a dizer, está tudo acabado entre nós! Escolho ser doente, pois o que importa, é o que eu gosto, e eu sinto todo desamor do mundo por ti!
--Não é isso que importa pra você? Se tem algo que eu aprendi com você, por mais que me doa admitir, é o hedonismo! Alias, não. Hedonismo não se aprende com ninguém, você me infectou, estou doente! E escolho sim ser doente, e terei de carregar pelo resto da vida o rancor de ter sido infectado por você.
--E... Que seja feita minha, vossa, vontade. "Felicidade"? E o que sabes tu sobre felicidade? Você é uma mulher incompleta, seca, insípida, de vida torta e deformada, e talvez, seja por isso, e apenas por isso que naquele fatídico dia, eu suguei a canção de seus lábios, e dançamos a noite toda. A mulher que não me faz sentir tão canalha, um brinde a isso.
E brindei naquele momento, a ironia em seu nome.
--Você infecta o ar a sua volta, emana doença à sua volta. E pro diabo com todo aquele papo. Nós dois sabemos, e todos à nossa volta podem enxergar, você mente pra mim, como só uma mulher com um copo roubado na bolsa, e um olhar como o seu seria capaz, e eu, minto da mesma forma para você, e os únicos que foram capazes de acreditar nas mentiras, fomos nós mesmos. Mas o “momento de vidro” passou, e agora não estou mais de porre, estou sim é muito sóbrio, e sua cara me da náusea. Tudo em você me traz de volta a boca aquele gosto amargo de acido gástrico, sinto ele me corroendo, mas chego até a gostar, pois ele me corrói menos que seu olhar.
--Sabe, eu cheguei a pensar que você me livrava da culpa que me pesa todos os dias, mas não, você apenas muda a culpa de lugar, não me sinto culpado pelo jeito que a trato, mas simplesmente por estar com você. Sua maior qualidade, é que durante o tempo insuportável dentro do próprio inferno onde estávamos, você me fez gostar de estar lá. Mas agora acabou e...
--Sabe --Me interrompe Felícia irritantemente sem mistério na voz – A sua vida é que é um inferno, e eu te faço gostar de estar nela. Te faço ter tesão de viver.
Tinha prometido a mim mesmo que não iria deixar que suas declarações me afetassem mais, mas diabos, ela sempre me deixa confuso me perguntando se ela está certa ou não, e sempre me faz perguntar, se ela é apenas uma infeliz hedonista loirissímamente burra, ou se é esperta, uma Capitu obliqua e dissimulada. Embora seus olhos de ressaca sejam de ressaca alcoólica mesmo, não por nos sugarem. A parte de Felícia que me suga, são seus lábios, não os olhos, em todos os bons e maus sentidos.
O meu silencio indicava nada menos que um ponto pra ela. Vitoria, e um sorriso pra comemorar seria nada mais do que extremamente próprio e doloroso para mim, mas seu silencio e inexpressividade, de como quem inocentemente espera uma resposta ou réplica, me perturbaram de certa forma que tomei por ela seu lugar e sorriso. Dei um risinho de vitoria e inconformismo mesclados, que não pude conter mesmo sóbrio, e torci pra que ela se incomodasse com isso.