quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Estados de Espírito

Há aqueles raros momentos na existência em que um novo sentimento, um novo estado de espírito nasce no âmago do ser. Algo único, complexo e sublime, que orienta todo o pensamento, que conduz a razão nos infinitos caminhos que esta pode percorrer, que faz brotar a inspiração e lhe define os tons, que delimita as paixões e a impulsividade da alma.
Este momento é aquele em que se sincronizam todos os sentires, em que o espírito, a mente, o corpo e o que mais lhe definir, entram em uma mesma freqüência.
Este novo estado possibilita novos e únicos insights próprios, lhe permite pontos de vista jamais sonhados e inconcebíveis em outras oportunidades, assim este estado de espírito lhe abre novos caminhos e expande seus limites.
Recriar este momento pode ser incrivelmente árduo e pode se tornar a grande busca da vida de muitos. Retomar aquela sensação da infância quando se passeava com os avós, ou quando pela manhã se deitava na cama dos pais e sentia os lençóis com textura diferentes dos seus, quando sentia o perfume de alguém que já se foi à muitos anos ou o aroma de uma receita que muito lhe agradava ou de um lugar que não mais existe, de um filme que lhe inspirou, ou mesmo aquela sensação de ouvir pela primeira vez aquela música que lhe invadia e se tornaria a trilha sonora de uma fase de sua vida.
Todos estes casos podem ser resumidos à experiências sensoriais, mas com certeza não se limitam à isso. Cada um deles é uma complexa aquarela, uma intrincada sinfonia de diferentes sensações, sentimentos e pensamentos que se sincronizam num mesmo estado de espírito e que o torna tão especial e difícil de se reproduzir, seja por que o tempo deteriora as fontes dos sentidos, modificando paisagens, desvanecendo perfumes, desbotando cores, edificando barreiras, ou seja por que nós também sofremos este efeito em nós, que agora somos outros, perdemos nossa inocência e temos pensamentos e sentimentos diferentes daqueles que já tivemos, sentimos as coisas de modo irreversivelmente distinta de outrora.
Acho que esta é a magia da infância e da juventude, poder gozar destes momentos sublimes com uma freqüência invejável, e também acredito que seja este preciso estado que muitos dos artistas buscam para fazer sua arte, assim como os apreciadores de arte busquem ao apreciá-las e mergulhar em suas obras, e que também seja esta mesma sincronia que viajantes buscam ao encontrar novos cenários que despertem novos estados em nosso espírito.

Estes estados de estado de espírito sejam talvez a causa primeira não só de nossos impulsos, mas dos sentimentos de saudade, de saudosismo, de vazio, de plenitude, de invencibilidade, de suma fragilidade, de amor e de medo. Talvez sejam estas forças complexas que permeiem nossa igualmente complexa psique e que nos fazem tão incógnitos e misteriosos para nós mesmos, e talvez, só talvez, estas forças que nos façam olhar com igual pavor e admiração para as estrelas e para dentro de nossos corações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário