terça-feira, 27 de abril de 2010

Requiem for Thanatos


Memento Mori


Desci o máximo possível para qualquer mortal e um pouco mais alem, cruzei as portas da vida, e abandonei toda a fé e esperança. Abandonei meus sentidos, me desfiz por completo, e antes imerso no medo liquido que me circundava, passei a fazer parte dele. Senti os timbres graves e agudos, os cantos de toda a humanidade passada, todos os gritos de guerra e choros de mães, e aos poucos comecei a compreender tudo, vi a linha da vida se tecer em minha frente, vi seu começo, seu fim, sua matéria prima, e seu criador. Passei a me dissipar por este universo verdadeiro e a fazer parte de tudo, e ao fazer parte, compreendia. Não seria possível beleza maior, não haveria até então e nem para alem do fim dos tempos qualquer forma de descrever a beleza Pura que gotejava no oceano da Verdade. Que mesmo Deus seria incapaz de reproduzir ou descrever. À essa altura não tinha mais ambições de voltar, já sabia então todos os mistérios dessa vida e de muitas outras, e nada mais me prendia, evolui minhas vontades e instintos para o da própria essência imaterial da grande Verdade que existia. Seguia o fluxo do saber etéreo, sabia seu fim, sabia tudo, e sabia que não havia necessidade de julgamento, não era então mais preciso saber se eu gostava disso ou não, já que inicialmente nem “eu” havia mais. Eu havia crescido, evoluído, agora já nem tangível minha essência era mais, e nenhum sentimento me permeava. Não imagino coisas como dantes faria, não cogito a dolorosa pena e pesar para com o resto da existência, nem as possibilidades de outros terem feito como eu, ou se há de fato algo mais a se saber. Se fosse parte de mim antes, acharia graça, mas não há mais isso, nem necessidade nem vontade. Sei de tudo isso, e mesmo que me engane, não importa, agora já não escrevo como um ser, referencia diferencial perdida em palavras, seria assim minha existência agora. Mas certamente compreendo que a existência é uma limitação que a muito ficou para trás. Agora fecho os olhos e cortinas da infinitude e passo a simplesmente a não ser, como agora sempre fui.

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