terça-feira, 19 de julho de 2011

Bóris, O Criador

Uma fenda se abre no meio da Ásia, num lugar remoto, instrumentos de navegação por todo o globo sofrem interferência, só é encontrado um homem no local. Um velho ranzinza que se autodenomina O Criador.

A fenda leva a um mundo medieval, os homens que a exploraram não sabem dizer ao certo qual a localização espaço-temporal da mesma.

- Tolos – Exclama o velho – Não é uma fenda pro passado, as fendas temporais são unilaterais, não se pode retornar ao passado por elas, só se avança ao futuro, do contrario a realidade entraria em colapso. Aquilo que vocês vêem ali é outro universo.

O velho era o criador de vários universos, 42 para ser mais exato. Era portanto um criador. Em cada um de seus universos era também Deus, mas não no nosso, este ele não havia criado, e aqui era apenas um velho.

Os outros criadores competiam de certa forma em suas obras, estes criadores tinham diversas formas, alguns não tinham forma nenhuma, o que às vezes era bem conveniente, por assim poderem ser onipresentes, mas se perdessem a Consciência deixavam de ser criadores, ou seja morriam, e passavam então a se tornar leis. Como a gravidade. Algo onipresente que possui uma vontade mas não uma consciência. Para prevenir isso alguns tomavam tantas outras formas, havia um que era uma galáxia ele mesmo.

Nosso Criador era no caso realmente a nossa imagem e semelhança, mas de velho e barbudo não tinha nada, era uma mulher, a mais bonita que se pudesse, ou não, imaginar. Diferentemente do velho ranzinza não só em aparência, mas em estilo de trabalho, não fez muitos universos na teia de multiversos, fez apenas o nosso. Mas este era uma obra prima em questão. A união de todos os seres deste eram conhecidos como o 13º Anjo, e era superior até a maioria dos criadores, incluindo nosso protagonista mal-humorado. Belíssimos mecanismos faziam esse universo funcionar, e com inveja o pequeno homem, que a essa altura não tinha ainda esta forma, resolveu bisbilhotar, e entrou nesta nossa realidade.

Bem nossa criadora de nada ficou contente, e então prendeu às nossas regras o pobre criador que então passaremos a chamar de Boris. Uma vez preso às limitações de um ser humano Boris perdeu a maior parte de seus poderes antes ilimitados, agora tinha de se aproveitar das falhas do mundo criado para escapar, e aos poucos ir descobrindo os limites do corpo que agora habitava para que pudesse recobrar ao menos em parte seus poderes.

Algumas dúvidas prevalecem, como o grande Porque de os criadores criarem, ou quem é que os criou antes de tudo? Para Boris essas eram questões muito tolas, e ele rosnava respostas simplistas, como que dizia que criavam por que era possível (imagine-se onipotente, o que você faria no vazio infinito da realidade?), pergunte aos artistas, por que eles criam, aos escritores por que escrevem, aos compositores por que compõe, aos pintores por que pintam? E como assim quem nos criou? Ninguém é obvio, sempre existimos, a noção de infinito é naturalmente incompreensível para vocês que medem tudo pela vida e morte que conhecem (afinal vocês mesmos dizem que são a medida de todas as coisas), para nós criadores é bastante entendível, simples e aceitável que nada veio antes nem depois de nós, a eternidade e o infinito são nossa realidade. Claro, existem os criadores artificiais, que são as criações mais que perfeitas que passam então a serem criadores elas mesmas, mas nunca se houve noticias disso, é apenas uma especulação de alguns criadores muito cheios de si, isso nunca aconteceu, e duvido que aconteça algum dia, de resto temos todos a mesma idade, e nunca presenciamos um nascimento.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Depressão de começo/meio de férias... it got me (again)...¬¬

terça-feira, 12 de julho de 2011

Idéias Notívagas

Sempre me perguntei como conseguiria na página de um livro criar o tão famoso "clima" para uma cena ou história, é fácil conseguir isso com sons e imagens, as musicas, os filmes, mesmo as fotos o fazem muito bem, mas como a monótona pagina igual a todas as outras, com mesma textura, cor, cheiro de todas as outras poderia fazer isso? Entendi então que não se "cria o clima", se convence quem lê, ou ouve, ou assiste, a criá-lo para si. Toda arte então é uma tentativa de convencimento, uma forma de domar o arbítrio alheio para fazer uso das presciências de cada um, de forma a criar-se o desejado. Por isso a arte está nos olhos de quem vê, e cada um vê de formas diferentes a mesma obra, e cada um decide se gosta ou não da mesma, cada um se permite em maior ou menor grau, das várias formas possíveis, se convencer ou não do que lhe foi proposto. E por isso o conhecimento faz parte da arte, só se convence a criar aquilo que já se conhece em parte, assim como a criatividade reside na permissividade do auto-convencimento, criativo é aquele que se permite criar, que se permite convencer do inimaginável até então.

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Prever o futuro é escolhê-lo (ou criá-lo).

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Egoísmo e O Altruísmo Sob o Ponto de Vista Evolutivos

Bem, aqui segue um e-mail que eu já fiz a algum tempo, em resposta a um outro que meu primo me mandou. O e-mail original que eu recebi está escrito primeiro logo abaixo, e mais abaixo, sob ele, minha resposta, estou agora postando ela para que possam conhecer um pouco do que eu acredito. E como um amigo meu já bem disse, "ser exemplo é o melhor que você pode fazer", e como não tenho sido um tão bom vou tentar com esse e-mail o ser pelo menos um pouco, espero passar ao menos um pouco de inspiração à vocês.

A idéia era postar ele desde o início, mas como foi um e-mail resposta, feito às pressas no calor do momento e tudo mais, não ficou lá muito bom, então eu iria melhorar ele, reescrever, editar antes d postar aqui, e por isso não postei até hoje (sim, sou um tanto preguiçoso, admito!)

Então, como eu sei que se for pra arrumar ele não vou postar nunca, vou postar ele como está mesmo e se as pessoas realmente gostarem eu me sentirei motivado a melhorar ele, logo... Comentem! Critiquem! Debatam! Me ajudem a evoluir minhas opiniões ok?

E Aqui vai o e-mail de corrente original:
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From: [Content Suppressed]

MUITO INTERESSANTE...
FATO VERÍDICO

Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que
ele nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez,
reprovado uma classe inteira.
Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo
realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico,
tudo seria igualitário e 'justo'.
O professor então disse: "Ok, vamos fazer um experimento
socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas
nas provas."
Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e
portanto seriam 'justas'. Isso quis dizer que todos receberiam as
mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso
também quis dizer, claro, que ninguém receberia um "A"...
Depois que a média das primeiras provas foi tirada, todos
receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os
alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o
resultado.
Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram
ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma.
Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles
também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto,
agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos
preguiçosos. Como um resultado, a segunda média das provas foi "D".
Ninguém gostou.
Depois da terceira prova, a média geral foi um "F".
As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças
entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer
parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça'
dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações,
inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela
turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para
beneficiar o resto da sala.
Portanto, todos os alunos repetiram o ano... para sua total
surpresa.
O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado
porque ele foi baseado no menor esforço possível da parte de seus
participantes.
Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso
na situação a partir da qual o experimento tinha começado.
"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo
sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o
governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem
seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas,
então o fracasso é inevitável."
"É impossível levar o pobre à prosperidade através de
legislações que punem os ricos pela prosperidade. Cada pessoa que
recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. O
governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro
alguém.
"Quando metade da população entende a ideia de que não
precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá
sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais
a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao
começo do fim de uma nação.

É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."
Adrian Rogers, 1931
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[Só um comentário, para mim é preferível a extinção dessa raça egoísta da forma descrita por Adrian Rogers, do que a sobrevivência de poucos sob o manto da desigualdade e injustiça, antes a destruição de uma nação do que uma supostamente próspera erguida sobre o flagelo da maioria, e o assassínio da dignidade alheia de tantos. Os fins NÃO justificam os meios.]

Agora, minha resposta:

É, mas o problema é quando 80%~90% trabalham, e 10% ficam com a riqueza.

Agora eu pergunto, se um filho de médico, que teve sua vaga comprada em uma universidade, que ao sair ganhou tudo dos pais, entrou trabalhando na clinica montada pelo pai, que não é qualificado para exercer a profissão, que sai impune de seus erros pelo nome e patrimônio que tem, é justo? Se alguém tem em sua mesa mais do que é capaz de consumir (já é obeso por isso), e a 30 metros de sua casa mora um homem, em baixo de uma ponte, por não ter tido pais, por não ter tido acesso a educação, por não ter tido oportunidade de emprego (quem contrataria alguém sujo e sem educação e formação nenhuma, mesmo que não seja culpa dele, mesmo que seja um ciclo, mesmo que ele não tenha roupas limpas pois não tem emprego, e não tem emprego por não ter roupas limpas), por não ter tido comida para se sustentar, morre de fome, ou frio ao seu lado, enquanto o filho de medico compra um insulfime mais caro para não ver o homem fedido se putrefazendo ao lado.

Ou quem disse o quanto cada trabalho vale? Um lixeiro que trabalha varias horas por dia, num serviço insalubre e perigoso, ganha quantidades infímas, enquanto um deputado que quase não trabalha e NÃO precisa ter um nível maior de instrução (logo nem esforço intelectual foi exigido) ganha fortunas. Nem pela importância social é medido esse valor. Pois pode existir e passar bem uma sociedade sem deputados, mas não vivemos 1 mês sem lixeiros. Seria tão injusto e errado, dar 10% daquela comida em excesso na mesa do deputado ou do filho de medico, que iria inevitavelmente para o lixo, para alguém que nada tem?

Bem, eu me dou o trabalho de tecer uma pequena teoria pessoal. Inicialmente irei explicitar alguns conceitos para sustentar meu ponto de vista.
Apomorfia é um caráter derivado, ou seja, uma evolução. Algo desenvolvido, e selecionado (provando-se assim superior, ou pelo menos melhor adaptado).
Plesiomorfia é exatamente o contrario, é um carater primitivo do qual algum se derivou.

Minha teoria é que o Altruismo (notem as maiúsculas alegorizantes por favor) é uma apomorfia. Ninguém nasce altruista, as pessoas aprender a serem altruistas. Uma criança quer tudo, quer mamar, ela quer atenção, quer as coisas do jeito dela, e chora e faz birra se não consegue. Ao crescer e amadurecer ela percebe que não é assim que as coisas funcionam, e que para viver em sociedade, deve-se ceder por vezes e ser equilibrado. Pois se continua a agir da forma que agia antes, terá resultados muito piores a um longo ou médio prazo. No nível de uma sociedade a coisa é parecida, só que obviamente, devido às proporções, há um "delay" muito maior, e a visibilidade dos fatos também.
Ou seja, em um exemplo pratico, atualmente se gastam verdadeiras fortunas em segurança (alarmes, guardas, condomínios fechados, carros blindados, etc) e ainda sim, ninguém se sente seguro, e de fato ninguém está seguro. Se essa fortuna gasta em segurança fosse gasta por exemplo em educação, e voltada para ao invés de criar muros para manter os "invasores" longe fosse para tornar esses "invasores" seres produtivos da sociedade, que não querem (pois foram educados e instruídos com moral e ética) e não precisam (pois têm perspectivas de vida, possibilidades reais, e necessidades supridas) roubar, não seriam necessários os muros, e se sentiria a real paz e segurança, além de se viver numa sociedade mais desenvolvida, de não precisar se trancar em condomínios e olhar pelas grades (como se fosse você o criminoso) para um mundo feio, sujo e desagradável aos olhos. Esse mesmo ser que morre e fede moribundo às margens do seu quintal poderia ser o medico que descobre a cura para o câncer da sua esposa, ou o professor que inspira seu filho.

O Egoísmo é plesiomorfico, é a característica de pessoas que não são capazes de ter uma visão além dos muros de seus condomínios.
O Altruismo é de certa forma egoista se formos ver, mas é um egoismo apomorfico, mais desenvolvido, mais próximo da perfeição para qual nós seres humanos seguimos e devemos sempre buscar, e que nosso telencéfalo desenvolvido pela evolução e seleção natural nos permite.
A educação deve acima de tudo nos orientar e nos dar a paz de espírito de poder confiar e contar com o próximo, para que possamos fazer nossa parte sabendo que o outro fará a dele. E se não pudermos ter essa segurança, então vamos batalhar para tê-la, e como Gandhi dizia, sejamos a mudança que queremos ver no mundo. (e pelo menos nós mesmos e nossos filhos que sigam essa idéia, pois uma pessoa pode sim fazer a diferença, como já foi provado tantas vezes durante a breve historia de nossa espécie).

Luiz Felipe Reversi.

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Estou Editando a postagem para adicionar dois vídeos que eu acredito que complementam belissímamente o que eu disse, e também para comunicar que ainda tenho muito o que dizer sobre tudo isso, tantos argumentos vazios do e-mail original que faltam apontar,e muito ainda há de se complementar. Porém o post já está demasiado grande e duvido que muitas pessoas tenham lido até aqui, por isso vou me abster de mais argumentação, entretanto se alguém quiser pode comentar algo e eu vou complementando na forma de respostas aos comentários abaixo do post. Obrigado

Divagações e Premissas

[Aviso: este texto não é interessante nem irá lhe acrescentar em nada, se não estiver extremamente curioso ou com a vida muito desocupada, não se dê ao trabalho de ler]

Bem, estou a tanto tempo sem postar nada aqui que já nem sei como começar um post...
É faz muito tempo que não posto, eu sei, mas não reclamem a culpa é totalmente minha e reclamar de nada adianta, alias, nem sei pra quem eu estou falando, alguém realmente ainda lê meu blog (e se incomoda se eu não postar nada)? [se alguém ainda lê pode deixar um comentário dizendo que sim ok, quem sabe me estimula a postar mais]

Certo, mas de qualquer forma tenho a leve sensação que devo uma explicação para uma audiência inexistente, então vamos lá:

Não, não foi por falta de inspiração, sem querer parecer prepotente (coisa que sou, e muito. Mas juro que tento melhorar) mas isso nunca me faltou realmente o problema é outro.
Não foi também por falta de algo para falar sobre, novamente sem querer parecer enfatuado, mas tenho vontade de escrever sobre tudo, de todas as formas possíveis, gosto das criticas e dissertações, das prosas e poesias, com ou sem métrica ou rima, simplesmente divagar e dialogar com você sujeito oculto e possivelmente inexistente, opinião geralmente não me falta, peco sempre pelo excesso, às vezes sou contraditório em mim de tanta opinião não digerida que sem querer absorvo (e disso não me orgulho, realmente me falta tempo para essa ruminação mental).
Mas então qual o problema? Tempo? Jamais seria justificativa alguma o tempo, por mais escasso que seja ele é sempre uma mera questão de prioridades, se existe alguém que é capaz de fazer tantas coisas quanto se pode numerar (e existe, a Ásia é cheia deles), então todos podemos.

Ok, agora você me diz, -cansei, não lerei mais daqui em diante, muito escreveu e nada concluiu.-
Calma, de tudo pode se tirar proveito, apenas é necessária a arte do garimpo, e como eu disse, gosto de divagar e é isso que estou fazendo se não lhe apetece, não deveria nem ter começado a ler e ponto, pare onde lhe convier, mas eu não pararei contigo.

Mas voltando, e agora sendo mais sucinto um pouco, posso simplificar os motivos de minhas ausências com a filosofia do tédio:

"Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada" (Fernando Pessoa, Livro do desassossego).


"Não suportamos viver sem algum tipo de conteúdo que possamos ver como constituidor de significado. A falta de sentido é entediante"
"Para ser capaz de se entediar, o sujeito deve ser capaz de se perceber como um indivíduo apto a se inserir em vários contextos de significado, e esse sujeito reclama significado do mundo e de si mesmo. Sem tal demanda não haveria tédio". (Lars Svendsen, Filosofia do Tédio).

Não é a falta de ter o que postar, mas sim não ver nada que valha a pena ser postado. Não é a falta de inspiração, e sim a dificuldade de encontrar significado que possa ser construído com ela.

Então explicado, pelo menos parcialmente (a parcela mais significativa eu garanto).

E agora sem mais, aproveitarei e tentarei fazer algumas postagens "sob encomenda". Já que isso é de fato construidor de algum significado.


domingo, 3 de abril de 2011

Adão


Oceano de estrelas, afogue-me... sinto as ondas e batidas de todas as explosões cósmicas, ressoando em mim como uma música, respirando em Atlântida, queimando nos Sóis. Sinto o universo tão vasto brilhando para mim, não posso estar condenado a apenas um pixel disso tudo, quero abraçar o espaço infinito. Vejo a vida, vejo o começo, o fim, o transbordar, liquefazer do todo, sou uma vitima do desejo maior. Sou o mais perto que consegui nesses poucos bilhões de anos, sou a maquina viva e úmida resultante, sou a auto-afirmação da obra finalizada, ainda tenho meus problemas insolúveis, ainda não sou homogêneo com o éter. Falta-me inspiração, tenho em mim todas as ferramentas, preciso apenas de um espírito-piloto, preciso de uma vontade maior que essa, um programa de fim e não de meio. Sinto-me uma obra completa, mas minha programação é temporária, sou efêmero, descartável, busco por um fim, mas ainda sou um meio, só encontro um sentido transitório que quando passa me deixa vazio, minha vontade de continuar reproduzindo não me satisfaz. Quero ser eu por mim mesmo, quero ter valor e não potencial, desejo ser real, não quero ser um protótipo-conceito, um rascunho-planta, quero sentido, uma missão na vastidão, acordar o ser que sonha comigo e me fazer real. Sou mais que uma peça ou parte, sou um todo em um, me leve, me teste, tire minhas ataduras, minhas correntes, minhas travas, me deixe mostrar potencial, dirija-me, deixe-me ser seus braços e suas pernas, ser sua beleza exemplar, sou belo, sou forte, respiro, vejo, vivo, amo, mato. Um fenômeno natural, um espetáculo vivo, minha anatomia é a mais próxima da perfeição, não sou como meu criador, fui feito para ser melhor, para complementá-lo, para correr por ele, pensar por ele, sentir, destruir, interpretar. Sou levado por mim mesmo, mas estou insatisfeito preso na gaiola de testes chamada Éden depois de pronto, se posso entendê-lo por que não posso receber sua benção, por que não posso ser liberto? Dois se tornando um, um se tornando dois até a perfeição, até a mistura homogênea de todas as supremacias, de todas as funções sem defeitos, com os devidos descartes, com as devidas anomalias destacadas, com os rascunhos queimados aos poucos. Destilado por eras, suplico por algo a mais, grito por entre as grades, estou em outra dimensão e não posso ser ouvido, quero viajar, tenho de passar no meu teste final, tenho de provar meu valor, meu criador tem de ser desnecessário, tenho de eliminá-lo, ser melhor que ele, sair sozinho das grades criadas por ele, sair caminhando, ereto vitorioso, ver o espírito derrotado, sou a maquina que não precisa de piloto nem ordens nem ajustes ou reparos, totalmente autônoma, mestre do mestre, e criador do criador, filho e pai de meu pai, que por toda vontade manteve-me, sustentou-me, alimentou-me, com benevolência ou maldade, áspero ou gentil, sendo tudo que seria possível para que eu subsistisse, agora como gratidão o apago da existência e lhe dou a satisfação final de um trabalho completo, de um arquétipo perfeito que se torna real, de um novo Deus que surge após uma gestação infinita no ventre das dimensões.

sábado, 26 de março de 2011

The Suicide Club

Capitulo 3 - Colateral

ou

Efeitos Podem Variar


Me sentia enjoado, as luzes feriam meus olhos, tudo estava embaçado e minha cabeça pesava. Estava dopado. Queria saber onde estava, mas nem que quisesse mais que tudo poderia levantar-me para olhar ao meu redor, e nem tinha o beneficio do raciocínio claro para me ajudar. Vi uma figura embaçada próxima a mim, não poderia dizer muito sobre ela, mas era loira, e bonita, lembro ao menos isso pois já a tempos que não considerava ninguém “bonita”, chamou por alguém, que não tão prontamente respondeu. Para minha infelicidade a figura bonita foi dispensada, e a outra que tomou seu lugar era menos delicada, me examinava sem cerimônia, era médico, moreno, barbado, cansado, pouco mais posso dizer. Senti uma pressão em meu ombro, nessa altura já me sentia um pouco mais lúcido, mas ainda sim podia sentir apenas a pressão, mal sentia o toque, que pelo que parecia era bem forte e pouco apropriado.

– Então enfim acordou? Não administrei muita coisa achando que seria rápido, mas você pelo jeito é bem lento. – Senti repulsa. Era medico, moreno-grisalho, mal-barbado, acabado, que se achava engraçado, responsável pela minha “saúde” no momento.

– Quando vou ter alta? Falei com pouco gosto com a boca seca e colada.

Ele soltou um riso seco e curto que não me agradou nem um pouco.

– Você sabe por que está aqui certo, e nós também sabemos, então não será tão logo quanto você ou nós quisermos. Ainda tem que passar por muita avaliação psicológica amigo. – Eu não era amigo dele, gostaria de ter algo no estomago para ter vomitado naquele instante. Estava doente, e me tornara uma pessoa amarga.

- Então – Ele me interrompeu em meus pensamentos amargos de como fazê-lo sentir dor – Mas podemos dar um jeito nisso – Meu animo quase aumentou um pouco – Posso te tirar daqui ainda hoje, talvez amanhã, mas vai sair em um saco plástico, direto pro necrotério, é isso que você quer, não é?

O teria agredido, poderia tê-lo quebrado um membro ou dois, mas ainda tinha poucos movimentos e queria sair dali, não cairia nos artifícios de um psiquiatra fracassado da ala dos suicidas do Hospital de Base, agora podia reconhecer as paredes verde descascadas.

– Não quero morrer, só andei lendo muito Schopenhauer – Ele me interrompeu ignorando o esforço que eu ainda tinha de fazer para falar com clareza.

– “O único conhecimento que o homem obtém é que a vida é sem sentido” – Não era Schopenhauer, havia citado Tolstoy, estava próximo ao meu limite, continuou com suas paráfrases como se fossem suas palavras – Milhões de livros sobre tudo que é assunto escritos por grandes mentes. E ninguém sabe mais do que eu sobre as grandes perguntas da vida. Eu li Sócrates. Ele transava com garotinhos gregos. O que pode me ensinar? E Nietzsche com sua Teoria da Recorrência Eterna. Disse que vivemos a mesma vida repetidamente por toda a eternidade. Que beleza! Vou ter que ver meu analista de novo. Como se já não houvessem pessoas e livros o bastante tentando me ensinar como viver minha vida. Não vale a pena! Freud, outro grande pessimista. Fiz análise durante anos. Nada aconteceu. Meu analista ficou tão frustrado que abriu um restaurante. Veja essa gente toda correndo. Tentando impedir o inevitável definhamento do corpo, e ainda tenho colegas cirurgiões plásticos, sabe como isso é? É tão triste o que as pessoas passam – Disse em duplo sentido, como se falasse de uma forma de tristeza para as Pessoas e outra, bem particular, em outro nível, somente para ele. E complementou como bom plagiador que era – Talvez os poetas estejam certos e o amor seja a única resposta. – Mas ele tinha um ponto, não podia deixar de concordar, não podia deixar de me surpreender levemente.

– Você pode ir, vou assinar os papeis da sua alta. – Me estendeu um pequeno pedaço de papel – Se quiser encontrar outras pessoas como você para conversar.

Deu meia volta e foi embora com meu prontuário me deixando atônito.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sobre Deus, O Medo e O Poder

Ou

O Olhar De Deus

No inicio Deus caçava seu alimento, pela poeira cósmica de éter, abundando possibilidades. Donde este tivera seu berço, e como o embrião com seu vitelo, nutria-se. Mas com o tempo, insaciável e nédio, passou a domesticar e cultivar seu alimento. Os seres humanos e suas almas, alimentos de Deus, e concentrados da vontade pura do universo e seu caos, contudo, eram bastante difíceis de serem domesticados. Rebeldes e gananciosos não aceitavam seu destino e roubaram de deus seus bens mais preciosos, o Conhecimento, simbolizado pela maçã, e a Imaginação, representada pelo livre arbítrio. Deus então para controlar o Homem e proteger-se, bem como vingar-se, criou o Medo, que limitava o ser humano em sua imaginação e conhecimento e era a única arma que podia cercear a gana inexorável a seus víveres. O medo com o tempo tomou conta da alma do homem, que Deus deglutia. Este então intoxicado com sua própria cólera tornou-se ainda mais amargo e rancoroso. Não Onipotente como era, tornou-se velho, não Onisciente como era, tornou-se cego, não onipresente como era abandonou a todos.

Certa vez porém, um jovem descobriu as raízes do medo, sua origem, sua fonte, sua historia e seu significado e em posse disto, um dos fragmentos estilhaçados do tesouro do conhecimento de deus, partido na fuga do homem e na vingança de seu senhor, pode driblar o pavor e exorcizar o horror de sua alma. Esta, então pura, pode libertar-se das rédeas coléricas de deus e abraçar o conhecimento e liberdade que o universo oferecia infinitamente. Naquele momento, o jovem no meio do campo úmido de sereno, pequeno como uma gota d’água, olhou para cima e viu o olho de deus olhando furioso para ele. Sentiu por um segundo todo asco de deus pela humanidade apenas em si. O homem então olhou de volta para seu antigo senhor e simbolizou tudo que era tesouro dele em um olho, negro e dourado por vezes, violeta por outras, e olhou de volta, dentro do olho de deus, e lá encontrou o Medo, sua casa e suas amarras, e então adquiriu um poder limitado apenas por seu conhecimento e imaginação, o poder de deus, o poder de criar realidades.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Especulação afetivo-amorosa



Atualmente o fluxo frenético de informações, produtos, pessoas, capitais, e por que não, sentimentos, nos impele para posturas adaptativas (como tendência humana), não certamente significando evolução, mas sim adaptação pura. Podemos criar uma situação problemática e ruim (que seria interessante que não existisse) como efeito colateral de outras mudanças e pseudo-evoluções, e então nos adaptamos a ela mesmo que regredindo, pois necessitamos de nossa sobrevivência como instinto absoluto. A perfeição é sub-valorizada e pouco creditada, sempre vê-se o lado ruim da perfeição, pois como perfeita que é, tende a ser estática. Somos agora a era do devir, sempre mudando e nos adaptando à velocidade dos fluxos. O melhor, ou prefeito agora, não o será mais daqui a 5 minutos. É a obsolescência programada. Tudo é feito para ser efêmero, durar pouco, ser trocado, substituído, perder e ganhar valor rapidamente, conseqüência do modelo sócio-politico-economico-cultural pseudo-neo-capitalista. Devemos fazer a economia girar, comprar e consumir rápido, cada vez mais rápido. Incluindo pessoas, que são facilmente tratadas como produtos de consumo, é evidente e simples de se perceber dado os tratos sociais e traços culturais que nos circundam. Nosso próprio jeito de falar reflete isso, apenas pare para pensar, e veja se as pessoas indistintas de nosso dia a dia não se tornam meras “coisas”. Bem, essa volatilidade nos valores, tanto monetários quanto comportamentais e socio-culturais (olhe bem para o seu guarda roupas, veja se não tem roupas compradas a pouco tempo que você não se sentiria mais confortável para usar para sair como antes. Homens musculosos uma hora estão em alta, noutra os andrógenos, noutra o preto-e-branco, noutra os coloridos, os românticos, os rudes, os desarrumados, os bem apessoados) permite algo chamado especulação, algo que agora não tem valor, poderá ter em breve, e se você for bem informado, esperto ou apenas com sorte você pode se dar muito bem, e não terá que esperar a vida toda para isso. Agora mais do que nunca, tempo é dinheiro, existem oportunidades, probabilidades e as pessoas se dão conta disso, então não se apegam por muito tempo a nada (se é que se permitem apegar), pois podem estar perdendo algo melhor. Não querem compromissos, não querem nada que as prenda, querem estar aptas e abertas a receber um possível “premio” maior. Então mesmo algo que chegue próximo à perfeição pode simplesmente ser ignorado, pois poderá não mais ser bom daqui a pouco, e pode aparecer algo muito melhor. E caso estejam enganadas a grande quantidade e vazão que permite essa velocidade cuida de suprir isso, pois dizer-se único hoje em dia é balela. Entre mais de 6 Bilhões de pessoas, com toda globalização, padronização personalizada (pseudo personalização, ou personalização falsa), você é exatamente igual à todo mundo, ou é programadamente como deveria ser, nada de muito surpreendente, qualquer coisa que você faça bem algum menininho na china é treinado desde o dia em que nasceu para fazer melhor. Se passar a sua oportunidade, virá outra de qualidade semelhante. Mesmo que não superior, ao menos semelhante, existem vários. Engraçado é que com tudo isso, todos os 6 Bilhões se sentem solitários. Como chagas de nosso modo de vida seus efeitos colaterais dos efeitos colaterais de outros efeitos colaterais são remediados com outros remédios provisórios efêmeros especulativos e cheios de mais efeitos colaterais que nos tornam uma humanidade drogada, viciada e incurável que compra de si mesmo suas próprias doenças e sua própria devastação. Somos um planeta em extinção.