sexta-feira, 30 de abril de 2010

Adeus à Espanha

Meus olhos redondos param por um instante. Escuto, espero. Preso no escuro, apenas espero. Busco em minhas costas um espinho venenoso, com veneno amargo que sinto com a pele, e sinto que este espinho bate dentro de mim. Não vivo mais. Meus olhos param por um instante, sem encontrar os teus eles se fecham, e não há mais nada que eu possa reparar, não há sacrifício que eu possa repassar. Agora sou eu, agora é a mim o que me resta. Santo e sereno, mais do que gostaria. Ameno e inofensivo, perante a cólera de deus, sabendo que o fogo arde por todas as partes, fogo amigo que não fere menos do que todos que já me queimaram apenas uma vez ou uma dúzia. Mando cartas aos músicos, aos missionários, lanternas aos afogados, faróis, pequenos sóis, ilumino a treva alheia e pereço na minha. Sopro as minhas velas na câmara final, acendo as luzes da câmara escura e queimo todas as memórias que ficaram. E Hermes que não me entenda mal, e que me perdoe, mas como suplica final, peço que corra por mim o globo, que acorde os deuses, que apague as velas que velam os seminecros, puxe as cortinas dos olhos do mundo, e cante assim minha canção, vermelha sempre vermelha, tal qual as saias das espanholas que me trazem pesar por partir, que sempre me fizeram sonhar, que me dão vontade de rir...

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