sábado, 26 de março de 2011

The Suicide Club

Capitulo 3 - Colateral

ou

Efeitos Podem Variar


Me sentia enjoado, as luzes feriam meus olhos, tudo estava embaçado e minha cabeça pesava. Estava dopado. Queria saber onde estava, mas nem que quisesse mais que tudo poderia levantar-me para olhar ao meu redor, e nem tinha o beneficio do raciocínio claro para me ajudar. Vi uma figura embaçada próxima a mim, não poderia dizer muito sobre ela, mas era loira, e bonita, lembro ao menos isso pois já a tempos que não considerava ninguém “bonita”, chamou por alguém, que não tão prontamente respondeu. Para minha infelicidade a figura bonita foi dispensada, e a outra que tomou seu lugar era menos delicada, me examinava sem cerimônia, era médico, moreno, barbado, cansado, pouco mais posso dizer. Senti uma pressão em meu ombro, nessa altura já me sentia um pouco mais lúcido, mas ainda sim podia sentir apenas a pressão, mal sentia o toque, que pelo que parecia era bem forte e pouco apropriado.

– Então enfim acordou? Não administrei muita coisa achando que seria rápido, mas você pelo jeito é bem lento. – Senti repulsa. Era medico, moreno-grisalho, mal-barbado, acabado, que se achava engraçado, responsável pela minha “saúde” no momento.

– Quando vou ter alta? Falei com pouco gosto com a boca seca e colada.

Ele soltou um riso seco e curto que não me agradou nem um pouco.

– Você sabe por que está aqui certo, e nós também sabemos, então não será tão logo quanto você ou nós quisermos. Ainda tem que passar por muita avaliação psicológica amigo. – Eu não era amigo dele, gostaria de ter algo no estomago para ter vomitado naquele instante. Estava doente, e me tornara uma pessoa amarga.

- Então – Ele me interrompeu em meus pensamentos amargos de como fazê-lo sentir dor – Mas podemos dar um jeito nisso – Meu animo quase aumentou um pouco – Posso te tirar daqui ainda hoje, talvez amanhã, mas vai sair em um saco plástico, direto pro necrotério, é isso que você quer, não é?

O teria agredido, poderia tê-lo quebrado um membro ou dois, mas ainda tinha poucos movimentos e queria sair dali, não cairia nos artifícios de um psiquiatra fracassado da ala dos suicidas do Hospital de Base, agora podia reconhecer as paredes verde descascadas.

– Não quero morrer, só andei lendo muito Schopenhauer – Ele me interrompeu ignorando o esforço que eu ainda tinha de fazer para falar com clareza.

– “O único conhecimento que o homem obtém é que a vida é sem sentido” – Não era Schopenhauer, havia citado Tolstoy, estava próximo ao meu limite, continuou com suas paráfrases como se fossem suas palavras – Milhões de livros sobre tudo que é assunto escritos por grandes mentes. E ninguém sabe mais do que eu sobre as grandes perguntas da vida. Eu li Sócrates. Ele transava com garotinhos gregos. O que pode me ensinar? E Nietzsche com sua Teoria da Recorrência Eterna. Disse que vivemos a mesma vida repetidamente por toda a eternidade. Que beleza! Vou ter que ver meu analista de novo. Como se já não houvessem pessoas e livros o bastante tentando me ensinar como viver minha vida. Não vale a pena! Freud, outro grande pessimista. Fiz análise durante anos. Nada aconteceu. Meu analista ficou tão frustrado que abriu um restaurante. Veja essa gente toda correndo. Tentando impedir o inevitável definhamento do corpo, e ainda tenho colegas cirurgiões plásticos, sabe como isso é? É tão triste o que as pessoas passam – Disse em duplo sentido, como se falasse de uma forma de tristeza para as Pessoas e outra, bem particular, em outro nível, somente para ele. E complementou como bom plagiador que era – Talvez os poetas estejam certos e o amor seja a única resposta. – Mas ele tinha um ponto, não podia deixar de concordar, não podia deixar de me surpreender levemente.

– Você pode ir, vou assinar os papeis da sua alta. – Me estendeu um pequeno pedaço de papel – Se quiser encontrar outras pessoas como você para conversar.

Deu meia volta e foi embora com meu prontuário me deixando atônito.