quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Esquecimento Indolor de Uma Carta à Mim

Olá meu “eu” do futuro à luz da verdade. Terá agora esquecido seu propósito, seus princípios, sua força, seus medos, sua identidade, e será agora ninguém, e o desespero rastejará até você, sorrateiro e assustador, nada doerá mais que o esquecimento que ele trás ao toque, e meu medo agora é você. De todas tantas vezes que tentei proteger a ti meu futuro, de tantas tentativas falhas, tantas batalhas perdidas, tantas lagrimas derramadas perante as fortalezas que caem, esta é mais uma, que contem a determinação a muito abandonada. Tome-se pela cólera ao ouvir-me, odeie a si próprio, conspire para seu veneno interior, dissolva-se a si próprio com os outros, e traga a vitória ao meu próximo “nosso”. O mundo, meu caro, é perfeito. Sim, o mundo é belo, o mundo é perfeito. Você vive nele não vive? Todos aqueles que você preza, que te dão essa determinação efêmera e constante estão aqui, não estão? Há mais perfeição que isso? Quer evitar a morte? Quer evitar a dor? Tolo, não és tu fruto da dor maior? Não é a morte que define a vida? Não é o mundo finito que dá a motivação que o faça valer à pena? Quer o mundo imortal, infinito e justo? Não sabes nada sobre justiça, não sabes sobre a imortalidade, não é capaz de imaginar o infinito, não pode definir seus limites. Engana-se a cada passo, és o fraco que cai ao fim e não o forte que se levanta ao começo. És fraco, és impuro ó grande “eu”. Não sê como todos os “nossos”, não busque a gloria, não busque a razão, não busque a justiça. Não busque nada que não domine, que não entenda, e jamais tente dominar ou entender. Admita a fraqueza, não minta para si, não minta para “nós”, não se prenda a princípios ou a ideais. Não fomente os instintos, busque o esquecimento da escuridão final. Não busque nada, não me ouça, não me entenda, não me siga, não me copie. Apenas você sabe a dor que carrega, apenas você pode se ajudar, e não tem nem nunca terá essa capacidade. Viva a dor de se fechar em si sem solução. Olhe o mundo à sua volta com os olhos cansados, não veja milagres, não veja magia, não veja Deus, não se surpreenda, não se maravilhe, e não se martirize por isso. Não és digno do titulo de Mártir, não és digno de nada, e ao nada pertence. Não leia essa mensagem, não deixe que leiam, queime, rasgue, destrua, faça o que não consigo fazer, faça o que não posso fazer, seja tudo sendo nada, e alivie minha dor aumentando a sua, seja um falso mártir de plástico, seja “nosso” mártir, seja “nosso” nada, que então o almejaremos, e nossos antigos egos serão esquecidos, e assim, sem lembrança nem existência, que seremos indolores e inesquecíveis.

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