domingo, 9 de janeiro de 2011

Sobre Deus, O Medo e O Poder

Ou

O Olhar De Deus

No inicio Deus caçava seu alimento, pela poeira cósmica de éter, abundando possibilidades. Donde este tivera seu berço, e como o embrião com seu vitelo, nutria-se. Mas com o tempo, insaciável e nédio, passou a domesticar e cultivar seu alimento. Os seres humanos e suas almas, alimentos de Deus, e concentrados da vontade pura do universo e seu caos, contudo, eram bastante difíceis de serem domesticados. Rebeldes e gananciosos não aceitavam seu destino e roubaram de deus seus bens mais preciosos, o Conhecimento, simbolizado pela maçã, e a Imaginação, representada pelo livre arbítrio. Deus então para controlar o Homem e proteger-se, bem como vingar-se, criou o Medo, que limitava o ser humano em sua imaginação e conhecimento e era a única arma que podia cercear a gana inexorável a seus víveres. O medo com o tempo tomou conta da alma do homem, que Deus deglutia. Este então intoxicado com sua própria cólera tornou-se ainda mais amargo e rancoroso. Não Onipotente como era, tornou-se velho, não Onisciente como era, tornou-se cego, não onipresente como era abandonou a todos.

Certa vez porém, um jovem descobriu as raízes do medo, sua origem, sua fonte, sua historia e seu significado e em posse disto, um dos fragmentos estilhaçados do tesouro do conhecimento de deus, partido na fuga do homem e na vingança de seu senhor, pode driblar o pavor e exorcizar o horror de sua alma. Esta, então pura, pode libertar-se das rédeas coléricas de deus e abraçar o conhecimento e liberdade que o universo oferecia infinitamente. Naquele momento, o jovem no meio do campo úmido de sereno, pequeno como uma gota d’água, olhou para cima e viu o olho de deus olhando furioso para ele. Sentiu por um segundo todo asco de deus pela humanidade apenas em si. O homem então olhou de volta para seu antigo senhor e simbolizou tudo que era tesouro dele em um olho, negro e dourado por vezes, violeta por outras, e olhou de volta, dentro do olho de deus, e lá encontrou o Medo, sua casa e suas amarras, e então adquiriu um poder limitado apenas por seu conhecimento e imaginação, o poder de deus, o poder de criar realidades.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Especulação afetivo-amorosa



Atualmente o fluxo frenético de informações, produtos, pessoas, capitais, e por que não, sentimentos, nos impele para posturas adaptativas (como tendência humana), não certamente significando evolução, mas sim adaptação pura. Podemos criar uma situação problemática e ruim (que seria interessante que não existisse) como efeito colateral de outras mudanças e pseudo-evoluções, e então nos adaptamos a ela mesmo que regredindo, pois necessitamos de nossa sobrevivência como instinto absoluto. A perfeição é sub-valorizada e pouco creditada, sempre vê-se o lado ruim da perfeição, pois como perfeita que é, tende a ser estática. Somos agora a era do devir, sempre mudando e nos adaptando à velocidade dos fluxos. O melhor, ou prefeito agora, não o será mais daqui a 5 minutos. É a obsolescência programada. Tudo é feito para ser efêmero, durar pouco, ser trocado, substituído, perder e ganhar valor rapidamente, conseqüência do modelo sócio-politico-economico-cultural pseudo-neo-capitalista. Devemos fazer a economia girar, comprar e consumir rápido, cada vez mais rápido. Incluindo pessoas, que são facilmente tratadas como produtos de consumo, é evidente e simples de se perceber dado os tratos sociais e traços culturais que nos circundam. Nosso próprio jeito de falar reflete isso, apenas pare para pensar, e veja se as pessoas indistintas de nosso dia a dia não se tornam meras “coisas”. Bem, essa volatilidade nos valores, tanto monetários quanto comportamentais e socio-culturais (olhe bem para o seu guarda roupas, veja se não tem roupas compradas a pouco tempo que você não se sentiria mais confortável para usar para sair como antes. Homens musculosos uma hora estão em alta, noutra os andrógenos, noutra o preto-e-branco, noutra os coloridos, os românticos, os rudes, os desarrumados, os bem apessoados) permite algo chamado especulação, algo que agora não tem valor, poderá ter em breve, e se você for bem informado, esperto ou apenas com sorte você pode se dar muito bem, e não terá que esperar a vida toda para isso. Agora mais do que nunca, tempo é dinheiro, existem oportunidades, probabilidades e as pessoas se dão conta disso, então não se apegam por muito tempo a nada (se é que se permitem apegar), pois podem estar perdendo algo melhor. Não querem compromissos, não querem nada que as prenda, querem estar aptas e abertas a receber um possível “premio” maior. Então mesmo algo que chegue próximo à perfeição pode simplesmente ser ignorado, pois poderá não mais ser bom daqui a pouco, e pode aparecer algo muito melhor. E caso estejam enganadas a grande quantidade e vazão que permite essa velocidade cuida de suprir isso, pois dizer-se único hoje em dia é balela. Entre mais de 6 Bilhões de pessoas, com toda globalização, padronização personalizada (pseudo personalização, ou personalização falsa), você é exatamente igual à todo mundo, ou é programadamente como deveria ser, nada de muito surpreendente, qualquer coisa que você faça bem algum menininho na china é treinado desde o dia em que nasceu para fazer melhor. Se passar a sua oportunidade, virá outra de qualidade semelhante. Mesmo que não superior, ao menos semelhante, existem vários. Engraçado é que com tudo isso, todos os 6 Bilhões se sentem solitários. Como chagas de nosso modo de vida seus efeitos colaterais dos efeitos colaterais de outros efeitos colaterais são remediados com outros remédios provisórios efêmeros especulativos e cheios de mais efeitos colaterais que nos tornam uma humanidade drogada, viciada e incurável que compra de si mesmo suas próprias doenças e sua própria devastação. Somos um planeta em extinção.