quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Pequeno Pedaço de Abismo (ou Beleza Americana)

Seus olhos miram o espelho,


Nada vêem,


E, após verterem seu pranto rubro-incolor,


Sujo, Sólido, e cheio de Dor,


Tornam-se para dentro de si,


E fitam o abismo infinito do Ser...

Caixinha de Música

Uma Lâmina chamou a Criança,
A Criança ouviu... e brincaram...
A Criança gosta de Música,
Gosta de ouvir, gosta de Cantar,
A Lâmina toca uma doce Sinfonia,
Canta, Toca e Dança...
Na pele da Criança,
E vibra entorpecia, Enxarcada,
Criança Inanimada,
Canta agora sua Canção,
Numa Caixinha Apertada,
Toda de Cetim forrada,
Onde repousa o Coração,
Caixinha de Música,
Onde a Criança dança Parada,
Sua Melodia Sobe alto,
Alem das Núvens,
Para os Zefiros Valsarem.

Ânima


Nada é estático, tudo se desfaz a cada minuto, o tempo se esvai, a incapacidade de toda a matéria de jazer como está, a incapacidade de permanecia da matéria revoltosa, relutantemente lutando e relutando, libertando-se das amarras que a atém a si mesma, explorando seu caos interno, tendo ao caos, liberando energia, queimando fugaz, desaparecendo, esvaindo-se, e evadindo, invadindo outros espaços, tomando o universo, retomando seu lugar, regendo-se a si mesma, e soberana de tudo, déspota corrupta, cresce, se expande, atrofia, entropia, esquenta, fere, queima, entalpia. Disfarça-se, foge da França, com falsa esperança, compra seu destino, doce soberana. Adentra a Terra, com violência, virgos veios de vida verde, machucam a terra, matam a morte, com mítica força forças a vida, grita em silencio e a faz agonizar, abate um avatar multicolor, retesando a fibra, empalidecendo a tez, em sua máxima amplitude, do profundo, escuro e abissal coração flamejante, abarcando o mundo, unindo-o com suas raízes, ascendendo majestosamente por todas as terras, por entre as serras, por sobre as montanhas, abrindo-se, abraçando aos céus, absorvendo a aurora, sorvendo a divina luz, espetáculo mágico, que apenas a frigida flor espelhada assiste, despida de qualquer sentimento ou modéstia, nua e transparente, veste apenas a mascara de sua falsidade e arrogância, abstendo-se de espelhar o pecado, ditando que a beleza esta acima da lei, com seu vestido mal vestido, em forma de copa, não cobre seu corpo, suas inflorescências, sem essência, flor vazia, sem perfume, vã teoria, cobre sim o mundo, sob suas infindas pregas, mergulha o universo em sombras, embebe tudo em trevas, esconde todo o horror explicito, oculta as criaturas que definham na escuridão, o falso vestido-copa, chamado relatividade, falsamente oblitera a visão da matéria pútrida, do fervilhar dos vermes, a impureza da carne, a mascara de sangue, a profana orgia do aumento indefinido, o som insuportável da marcha silenciosa de mil Almas, a revolta de Ânima, rei inoculto, intrínseco a própria existência, quebra o sonho falso de si mesmo, despertas do sono ambulante, de noites febris e mal dormidas, o ódio doentio incessante, move a matéria contra sua vontade, foge ao seu controle, és a flor-espelho, a mascara de carne e sangue, és a unidade, luta contra si mesmo, destrói-se, e se refaz, apenas para manter-se verdadeiro, para fazer o vento soprar, o fogo queimar, a areia cair, as águas correrem. E faz tudo isso, pela penúria incriminadora, a necessidade Essencial do ser de afirmar sua existência? Não! És a Existência.

“Ninguém começa no topo, nem eu, nem você, nem mesmo Deus. Mas o vazio insuportável do trono dos céus será preenchido, de agora em diante, Eu estarei sentado nele.”
Tite Kubo

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Tales

Parte 2

Era um jovem velho, em que a velhice era como uma doença, e se assemelhava muito a um jovem doente. Assim como os anciões sentem suas dores de corpos gastos, ele as sentia, da mesma forma, só que como um corpo doente ao invés de gasto, como fatores diferentes, causando exatamente o mesmo produto. E assim como alguém muito velho, alguém muito doente também tendia a partir. Assim, a cada dia, a cada vida vivida, e a cada fim, ele sentia o seu mais próximo, e isso o assustava e preocupava cada vez mais, pois apesar de velho, e não que isso exclua o medo da morte, ou necessariamente melhore a sua aceitação, ele a temia mais que tudo, sendo por um lado velho, e cansado da vida, ou no seu caso, das vidas, também havia espíritos jovens, de vidas vibrantemente novas, que guardavam em si uma paixão pela vida igualmente muito forte.

Uma paixão quase irracional pela vida, uma paixão que um dia ele já entendera, mas, que com o passar de tantos tempos, havia esquecido, já que assim como os antigos, se esquecia de muitas coisas, por ter tanto o que guardar. As conversas, ele já havia ouvido todas, e nada mais o surpreendia de verdade, já havia sentido de tudo, até mesmo a morte, varias vezes, embora esta ultima nunca deixasse de ser assustadora e mórbida. Então não havia nada que pudesse fazê-lo sentir tão intensamente como das primeiras vezes, e poucas coisas, e cada vez menos, o traziam algum prazer, embora o prazer de estar vivo em si, era um que custava a enfraquecer, mas que também parecia não resistir ao tempo tanto assim.

Por isso suas vidas se tornavam cada vez mais curtas, e agora, cada vez mais próximo do fim, buscava apenas “férias” vidas jovens, e curtas, sempre antes de ficar velhas e pesadas demais para poder suportar depois. E ultimamente, por mais felizes, jovens e frescas que fossem, não podiam suportar, e sucumbiam ao peso de todas as predecessoras, e tendiam a um fim trágico, ou um suicídio abrupto, entre um dos hiatos grotescos e abissais dos momentos de felicidade e quase euforia.

Estava cada dia mais cansado, e cansara eventualmente de viver tantas outras vidas, e embora não pudesse evitar de vive-las, uma vez integrante delas, tomava o rumo que bem decidisse, e colocava um fim a todas como já disse, um fim trágico quando num dos momentos de depressão, percebia que já havia ido longe demais com aquela. Havia até elaborado uma espécie de matemática cruel em sua mente, em que havia o zero, e aquilo que estava acima ou abaixo dele, como uma escala que indicava o quanto ainda valia a pena viver, enquanto o saldo permanecia positivo, ele vivia, quando caia para o negativo, ele realizava a “não-vida”, e reiniciava o ponteiro de seu medidor mórbido novamente para o zero...

Tales

Parte 1

Era uma vez um garoto, e como em toda boa historia, não era um garoto assim tão comum, ele tinha uma característica muito especial, e também muito triste, ele envelhecia através dos outros, e alem disso, talvez o mais extraordinário, embora certamente não pareça, ele tinha um dom divino, a outra face de sua característica especial, ele vivia... Mas, não vivia da mesma forma que a grande maioria, ele vivia muito, muito mais. Pois ele vivia não apenas sua vida, mas vivia infinitamente varias vezes em pouquíssimos minutos, vivia cada vida que pudesse conhecer, mesmo que através de historias há muito tempo esquecidas, e dessa forma, vivia todas as vidas, mesmo as já vividas, ou as que normalmente nunca poderiam ser... Em qualquer época, circunstancia ou lugar... Mas ele as vivia de verdade, com tanta intensidade e veracidade, que ninguém mais seria capaz, e assim ele as vivia por completo, e usava mais da vida de algum, do que seus próprios donos originais. Ele sentia cada sentimento e sensação, ele podia ouvir, saborear, cheirar, e ser qualquer um, de uma forma que para nós, seria incompreensível.

Porem, por mais bela fossem as vidas que vivesse, havia, digamos, um preço a se pagar, ou talvez dois, assim como toda a vida tem suas maravilhas e encantos, elas também têm seus momentos difíceis, e suas dores, as quais ele não poderia evitar viver com tanta intensidade quanto a todo o resto, e assim, alem do sofrimento que cabia a uma única pessoa, ele sofria por toda uma humanidade, das tristezas menores de uma vida amena, às duras penas das vidas miseráveis que rastejaram por este mundo, e como se não bastasse, dentre todos os sofrimentos diferentes de todas as vidas diferentes, há um em comum a todas, que ele também não poderia escapar, e o sentiria em seu máximo, o envelhecer.
Ele envelhecia ao passo em que as vidas que vivia também envelheciam, o tempo arrastava a ambos, e se vivia 10 vidas no mesmo instante, envelhecia 10 vezes mais rápido, e embora em grande parte das vezes, só fosse a ele possível viver trechos de vidas, não chegando ao seu fim, e não sentindo o peso do tempo em sua maior amplitude, ainda sim, havia adquirido a bagagem de um bom tempo para pesar em seus ombros, alem daquelas vidas, provavelmente a maioria, ou se não maioria, por serem tão longas, superando todas as outras em seu volume cronológico, as vidas que vivera até o fim.

Estas pesavam tanto em si, que mesmo quando ainda jovem, não atingindo ainda a casa dos 20 anos, já havia vivido mais do que qualquer um que conhecera, e em alguns momentos, se sentia tão velho quando podia imaginar.
Para contornar seu estado de velhice, ele se evadia de sua dita por todos como “vida principal”, embora talvez melhor descrita como “vida acumulada”, por não diferir muitas vezes das outras em qualquer que fosse o quesito, apenas diferindo por acumular nela, todas as outras, quase todas as memórias, e toda a bagagem de toda historia que chegava ao fim, bem, se evadia desta vida, para viver mais uma, uma vida jovem, que o fizesse sentir jovem por um momento. Mas não é necessário dizer que isso não resolvia seu problema realmente, era uma ótima solução imediata, como férias de sua condição quase agonizante, porem, quando estas “férias” terminavam, seus dias, e sua bagagem também era adicionada ao resto, e no final, somente o faziam sentir ainda pior.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Anjo


Um anjo torto e deformado...
caído e mal acabado...
pobre desalmado...
feio, desfigurado...
certa vez me disse que não temia a morte...
anjo mentiroso, anjo enfadado...
anjo tolo, de nome ainda não perdido pelo tempo...
Ele não perdoa, nem um pobre anjo como ti...
nenhum'alma, nenhum ser...

anjo pequeno, inacabado...
anjo bobo e malfadado...
anjo oblíquo e errado...
injusto e arrojado...
pede afoito o perdão...
clama, ergue a mão...
corajoso e apavorado...
é lentamente devorado...
digere-se em suas entranhas estranhas...
e vigoroso apunhala as vísceras...
inconstante, indeciso e temeroso...
ao mesmo tempo, forte e poderoso...
entrava e entorse, entorpece e explode...
salta pra fora, vai se embora...
corre, corre, corre...
e ao longe escorre...
respira fundo, adormece e morre.

Ruby

...Os cabelos desprendendo aos poucos do coque demoradamente feito...
...O velocímetro atropelando as leis... O vento nem frio nem quente invade o interior do veiculo e leva a musica carregada pela noite...
O radio alto, como uma ironia tocando musicas alegres, de batida rápida, quase eufórica, mas alegre, contagiante, alternando entre todos os estilos, eletrônica, rock, pop e outros... Mas todas felizes... Assustadoramente felizes, e intensas...
•... e Ela parece cantar junto, de todo o coração, sem mexer os lábios, intensa como a musica... Vestido de festa, longo e dourado como seus cabelos... Batom vermelho, maquiagem cuidadosamente pesada, acentua sua beleza natural da melhor forma possível, e quase a torna incandescente na noite escura... E em qualquer lugar que fosse, roubaria as atenções e pudores, encantando todos os mortais... Seria amada a todo instante, com olhar radiante, de seus olhos cor de jade, vertendo brilhantes, escorrendo por finos fios de prata em sua face de porcelana dourada, como a jóia mais preciosa, ou como a origem de toda beleza, com o grande rubi batendo rápido no peito perfeito, acompanhando o carro, saltando a cada mudança de marcha, deixando distantes os 150 quilômetros por hora, e batimentos por minuto... Deixando distante também, todo o mundo... Todos que não são capazes de entendê-la, que não são capazes de amá-la de verdade, como só ela poderia ser e merecer, e que da mesma forma, só ela é capaz de sentir e sofrer...
... E o veiculo rompe os limites da ponte sobre a qual deslizava em direção às nuvens, e agora mergulha em direção à escuridão das profundezas da noite... Desfazendo-se de seu tesouro interno... Que brilhou pela ultima vez na noite, iluminando todo o mundo por um instante, como um eclipse invertido, banhando com sua luz, todos aqueles que provavelmente não eram dignos dela... E que tão rápido quanto viajava na penumbra noturna, como uma estrela cadente, apagou-se eternamente, se desfazendo no ar... Sem tocar o chão, que não merece o infinito de seu esplendor...

Citações

Bem, certa vez um amigo me disse (irão ouvir/ler muitas vezes esse começo) que se utilizar de citaçoes de outros é um sinal de fraqueza ou falta de palavras próprias, ou algo assim... (também não me lembro com exatidão as palavras dele, e então, não por medo de aparentar fraqueza ou falta das minhas, escrevi com as próprias).
Mas apesar disso, vou colocar agora algumas frases e citações que eu acho proprias e que no momento têm alguma significancia para mim ou minha vida:

"Se o melhor é possível, O bom já não é o suficiente..."

"A pior solidão, é a solidão acompanhada."

"Olho por olho e o mundo acabará cego."

"Seja a mudança que quer ver no mundo" - Mahatma Gandhi

Bem, são 5:30 da madrugada, nem sei por qua comecei esse post, não vou terminar agora, 2 citações por hoje tá mais do que bom e ponto.

[Atualizando, essas duas ultimas são lindas e se completam, alias, completam com a primeira também, acho que podemos resumir em "excelência" ou perfeição mesmo (embora haja uma conotação pejorativa oculta nessa ultima que quero evitar), bem isso resume uma boa parte dos meus ideais (os mais superficiais porém mais diretos, bons para se aprender a lidar comigo^^').]

[Certo, querem comentário sobre a segunda citação também?? (como se alguém realmente lesse e/ou se importasse mesmo com o que escrevo aqui oO) bem, isso é só paranóia minha e parte dos meus problemas existenciais, nada de muito relevante para além de mim (espero), apenas carregado com alguma frustração e desespero menores (ou maiores por vezes, mas nada realmente importante).]




Tá, tá... quando der e quizer, edito e ponho mais...¬¬


Adicionando mais uma que me veio a mente agora e me leva a fazer várias das coisas que eu faço...

"Se quer algo bem feito, faça você mesmo."

ou dita de outra forma também [dependendo da circunstância].

"Se eu não fizer, ninguém fará. Por isso faço."


E umas outras...

"Se não quer que ninguém saiba, não faça." [Não entra só no mérito do saber, ou seja, se não quer algo, não dê motivos para que aconteça, a omissão também é uma ação.]

"Posso não concordar com nenhuma palavra do que dizes mas defenderei até a morte, o direito de dizê-las" - Voltaire

"Dada a imensidão do tempo e a vastidão do espaço, é uma honra para mim compartilhar um planeta e uma época com você." - Carl Sagan

"A maior inimiga da verdade não é a mentira, pois esta se dilui com o tempo. A maior inimiga da verdade é a convicção, pois esta é a mãe da alienação" Nietzsche

[Trocaria "mentira" por "erro" ou "engano" nesta ultima, a "mentira" é inaceitável, pois antes de mais nada presume-se a ciência da verdade por parte de alguém, não há mentira sem verdade {e sem "desigualdade" = "diferenças de poderes" (tendo conhecimento como poder e desigualdade como ausência de justiça)}].

"Ainda que bilhões de pessoas acreditam em alguma coisa estúpida, essa coisa continuará sendo uma asneira." - Anatole France

[Essa outra me deu muita dor de cabeça, e muitos problemas para prová-la, por mais banal e simples que possa parecer. PS: peguem alguém inflexível e/ou ignorante e tentem provar que isso é fato...]

"Acreditar é bem mais fácil do que filosofar... Por isso existem mais crentes do que pensadores." Bruce Calvert

[Ainda não tenho certeza se essa é verdade, mas me pareceu interessante.]

"Argumentar com quem renunciou a lógica, é como medicar um homem morto. Ou colocar fermento depois que o bolo já está pronto."

[Isso também sempre me trouxe muitos³²²³¹³²¹ problemas, simplesmente é difícil demais para mim desistir das pessoas, da lógica ou da argumentação, é difícil admitir a insânia sem cura, e o fracasso da luz da razão perante as trevas da loucura. É difícil encontrar coisa mais triste.]

"Não atira pérolas aos porcos."

[Bem parecida com a ultima, aparentemente faz sentido, mas é difícil de aceitar.]

"A dúvida é a certeza de quem não quer se afastar da verdade."

"Dizer que um crente é mais feliz do que um cético é como dizer que um bêbado é mais feliz que um sóbrio." - George Bernard Shaw

[Hm... essa me fez pensar, devem os sóbrios curar os bêbados? Devem os céticos despertar os crentes? Como poderíamos julgar o que é felicidade ou o que é melhor para o próximo? Até onde vai o nosso direito de decidir pelos outros aquilo que estes se omitiram a decidir? "É difícil dizer que prefiro estar acordado quando estou sonhando"]

"E se a verdade for tão terrível, a ponto de acabar com as suas esperanças?"

[Isso sempre me deu muito medo... mas nem por isso menos vontade de saber a Verdade.]

Heavy Metal, and Concrete and Dreams...

Tudo pesa, tudo é cinza e pesado, o mundo é pesado, as gotas de chuva pesadas caindo sobre mim, a paisagem cinza e aguada, me faz sentir imerso. Imerso em dor, em vazio, em uma ausência inexplicável, inexorável, desesperadora, incompreensível.
Cada pingo que cai do firmamento acima é uma repressão gélida, a fumaça sobre minha cabeça traça o limite permitido à meus olhos, adentra por meus ouvidos, e embrenha em minha mente, estabelecendo os limites de meus pensamentos. As palavras e sons me calam, secam minha boca costurada. Como um animal me arrasto, camuflado de gris, sobre um fundo de mesmo tom, de concreto e pedra, onde me abrigo por entre as frestas, onde me alimento da umidade insípida dos fins de seus sonhos. Onde mal-vivo, onde me embrenho por dentre os veios de aço, dos blocos de cimento entupidos de pessoas, e vazios de humanidade. Assim passo os dias, invisível e dentro dos limites sem dono, vivendo com a responsabilidade de viver assim, invisível, cinza, e limitado, vigiado por alguém sem nome nem sobrenome, alguém sem responsabilidade, e com a mesma que a minha, de não existir, mas de calar, e não consentir.

Qua Blog is este?

...é, é, é... gosto de escrever e refletir sobre coisas, qualquer explicação mais especifica me restringiria por demais, e me traria o temor de estar equivocado.
Neste caso, deixo o vago falar por si, e a simplicidade da descrição se completa.
Postarei meus textos, contos, cronicas, poemas, e livros, (não regularmente), e também analises, pensamentos,divagações, e... e os comentarios que achar cabíveis...

The Suicide Club

Capitulo 1 - Perto Demais de Deus

Não me sentia particularmente triste aquele dia, os motivos que me levavam à isso eram outros, muito maiores, muito mais imutáveis, muito mais sólidos e fortes do que eu. E acredito que escolhi o melhor jeito de fazê-lo, lá do alto podia ver toda civilização abaixo, todas as luzes, todas as pessoas andando, comprando, roubando, e tocando suas vidas sem parar para pensar, ver quase todos os motivos que me trouxeram aqui, de lá eu podia sentir os sons e as luzes da grande metrópole doente que se desfazia aos meus pés, sentir todo o caos, e todo o desespero, do qual todos faziam parte. Isso me motivava ainda mais, me impelia a isso, mas não somente, havia algo mais alguma coisa, ao meu redor tudo era vasto, grande, extenso, mas não me sentia pequeno, me sentia maior do que jamais me sentira antes, me sentia gigante, maior do que toda essa gente, maior do que a cidade em si, grande como o mundo, mais alto que ele, acima de todos, fazendo a coisa mais sublime, quase divina, que poderia fazer, que só eu era capaz, somente eu havia atingido aquele nível. Enquanto todos os médicos se vangloriavam de salvar vidas alheias, de todos os juízes com toda soberba de supostamente promoverem justiça, de todos os cientistas e pesquisadores que descobriam curas, que inventavam maravilhas para tornar nossas vidas melhores, de todos aqueles que tinham seu papel de trazer qualquer bem ao próximo, ou ao mundo, eu tinha o mais importante de todos naquele momento, estava prestes a dar ao mundo, o maior bem que alguém poderia fazer por ele, o ser mais altruísta do mundo, e a sensação que isso me dava era quase indescritível, eu era tomado por um prazer e uma felicidade simples e plena, e acredito que deixava escapar um sorriso sinistro vez em quando.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Blue Velvet


Então o dia em que você se perde completamente, poderia ser uma noite tão bela...
estão todos lá, cada um em seu lugar,
lugar onde querem não querendo estar,
lugar eterno, etéreo, impossível de escapar...
quarto fechado, com imagens projetadas nas paredes...
imagens que vão mudando constantemente,
para nos dar a ilusão de que estamos nos movendo...
para não continuarmos lá, todos os dias...
para nos dar a ilusão, de que estamos do lado de fora...
ou ao menos, a ilusão de que podemos sair...
quarto sem porta, porta sem chave, chave escondida, chave de veludo, costurada, engolida...
quarto de veludo azul, azul bonito, leva-nos aos céus, onde podemos voar, onde podemos cair, um cair infinito de veludo, um cair doce e preocupante, cair azul...
leva-nos ao mar, onde podemos navegar livres, onde podemos mergulhar, e nos afogar na imensidão do azul tão azul de veludo escuro... de um quarto aconchegante, enquanto a ilusão do tempo passa, depressa, e devagar demais, a cada dia, a cada surda pancada, no tecido macio, que absorve nossos sons, nossa energia, nossa sanidade, humanidade...
nós não podemos dançar no chão de veludo, não podemos brincar, não podemos brigar, não se pode estragar o velho veludo, fingindo ser o vento, ele sussurra que nos protege...
Oh quarto profundo, de forma tão fixa quanto meu olhar de olhos fundos, olhos azuis, espelhos bem polidos, por onde não passa a luz, que apenas reflete tudo o que vê, e nada absorve...
Olhos de azul lacrimejante, de tanto azul até se escorre, olhos, janelas de uma alma, adormecida, clonada, janela fechada, com cortinas de veludo azul, através das quais ninguém ousa adentrar...
Olhos que percorrem o azul infinito, de mil anos, tão bonito, continuo, e sem referencial do quarto azul, de veludo azul, azul como a vida, azul, azul escuro, amargo, muito bem mascarado, azul de paredes azuis que sobem alto, por onde passam imagens azuis e aveludadas, imagens que não podem ser absorvidas, que são macias demais para arranhar um espelho, macias demais para quebrar uma janela, azul demais para acordar uma alma cega, perdida dentro de um corpo azul, de interior espelhado, de azul aveludado, de um quarto azul e macio, um quarto de veludo, azul profundo, profundo como o quarto, vazio como um ser, um recipiente, para uma alma, perdida na imensidão azul, assustadoramente azul, solidamente azul, vastamente azul, tristemente azul...