quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Um Texto de humor disfarçado, com dois dedos quebrados.

Um Texto de humor disfarçado, ou uma Agonia disfarçada em humor.


I miss her...
I miss her a lot...
I wish you were here… Agony…



Não sei por que terminamos como terminamos. Foi assim tudo tão rápido, uma hora nem estávamos, na outra, não estávamos mais. Talvez tenha perdido a habilidade de fingir interesse nos poucos assuntos banais e cotidianos que tínhamos em comum. Seria isso? Teria ela percebido isso? Mas, percebendo isso como não perceberia meu fascínio com o movimento de sua boca? Isso sim me interessava, me atraia, a dança de seus lábios enquanto falava, enquanto sussurrava, murmurava, beijava meu corpo. Não havia ritmo, ou padrão, era sempre uma surpresa.

Eu me recusava a admitir, ou mesmo até a perceber a influencia dela sobre mim, simplesmente não acreditava, por mais obvio que fosse. Meu jeito de vestir, de andar de falar, não são mais os meus, são os dela, os que ela quisesse que fossem e foram. Mesmo agora, em meu guarda-roupa mais sóbrio, no tom das paredes do meu quarto, que agora é mais escuro e mais sombrio. (Deveria ter trocado a lâmpada.) Ainda os desgosto gostando, como o faço com ela. Ainda a gosto desgostando, e gosto agora de não gostar, gosto agora do que não me gosta, daquilo que não gosto, daquilo que me faz sofrer.

Tudo que era e que fosse, mudança ou permanência qualquer tinham sentido, mas nada mais depois disso. Qualquer mudança agora é vã, qualquer permanência seria uma antiga mudança guardada, e vã também seria. Estou num hiato estranho de existência. Sendo o que seria, não sou mais. Me incomoda o sono, o esporte, o descanso e o trabalho. Me é incomodo escovar os dentes após as refeições sem ela, fazer a barba no banho sem ela, passar as roupas para não vestir ou despir sem ela. A vida é vã, pensando ou não nela e nela.

Por quantas garotas gastei linhas? Quantas garotas gastarem por mim linhas? Quantas garotas no mundo me importariam se gastassem ou não linhas, se foram ou não gastas, usadas, compradas, vendidas, amadas, desamadas, desalmadas uma vez ou outra ou sempre? Por que sempre uma garota? Por que sempre uma garota é a garota? Por que tantos porquês e tão pouco álcool? Taça e meia de champanhe, conhaque e vinho com ou sem gelo, com ou sem ela, resolvem ou não.

O rosto que vejo no espelho é feio. É feito de muita ausência, é cansado e pouco cuidado. Estou com dois dedos quebrados, disse e fiz, que cada vez que fosse escrever aquela palavra, quebraria um dedo para não fazê-lo. Dito e feito, conclui que terminaria sem dedos. Já estou a pouco de perder o emprego que não quero mais, estou ainda mais a pouco de largá-lo. Ás vezes esqueço por que trabalho, acho que trabalhava para viajar. Não viajo mais por que trabalho. As vezes esqueço que trabalho em casa e que sou meu próprio patrão.

Não quero mais viajar, não gosto mais. Não gosto mais de muita coisa que nunca gostei. Perdi meus gostos emprestados. Pedi desgostos emprestados. Imprestável fiquei. E depois de tanto tempo, esqueci dela, e não disse o que disse que não diria. Ela teria me chamado de bobo, e completaria que a mais boba é ela. Nunca me pareceu assim.

Costumava ter amigos? Haviam amigos meus e amigos nossos, os meus se tornaram nossos também com o tempo, os dela, dela, os nossos, nossos, mas no fim, nenhum meu. Não me incomoda tanto, poderia ter amigos se quisesse, mas não tenho mais vontade de sair, de comemorar, de torcer, nem de nada que se faça com amigos. Não quero ser voyeur de alguém qualquer. Não quero predizer o sucesso ou fracasso que sentir, e ninguém quer ouvir isso de mim também.

A maçaneta da porta gira devagar, ela entra trazendo a janta. Sorri para mim e pergunta se havia demorado, se estou com fome. Acho que exagerei, 45 minutos para buscar a comida não significam ser abandonado. (Quanto tempo ou quanta dor caracteriza um abandono?) Sou mesmo bobo como ela diz, e diz que gosta, mas espero a bronca de quando ela ver meus dois dedos quebrados.

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