terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Tales

Parte 2

Era um jovem velho, em que a velhice era como uma doença, e se assemelhava muito a um jovem doente. Assim como os anciões sentem suas dores de corpos gastos, ele as sentia, da mesma forma, só que como um corpo doente ao invés de gasto, como fatores diferentes, causando exatamente o mesmo produto. E assim como alguém muito velho, alguém muito doente também tendia a partir. Assim, a cada dia, a cada vida vivida, e a cada fim, ele sentia o seu mais próximo, e isso o assustava e preocupava cada vez mais, pois apesar de velho, e não que isso exclua o medo da morte, ou necessariamente melhore a sua aceitação, ele a temia mais que tudo, sendo por um lado velho, e cansado da vida, ou no seu caso, das vidas, também havia espíritos jovens, de vidas vibrantemente novas, que guardavam em si uma paixão pela vida igualmente muito forte.

Uma paixão quase irracional pela vida, uma paixão que um dia ele já entendera, mas, que com o passar de tantos tempos, havia esquecido, já que assim como os antigos, se esquecia de muitas coisas, por ter tanto o que guardar. As conversas, ele já havia ouvido todas, e nada mais o surpreendia de verdade, já havia sentido de tudo, até mesmo a morte, varias vezes, embora esta ultima nunca deixasse de ser assustadora e mórbida. Então não havia nada que pudesse fazê-lo sentir tão intensamente como das primeiras vezes, e poucas coisas, e cada vez menos, o traziam algum prazer, embora o prazer de estar vivo em si, era um que custava a enfraquecer, mas que também parecia não resistir ao tempo tanto assim.

Por isso suas vidas se tornavam cada vez mais curtas, e agora, cada vez mais próximo do fim, buscava apenas “férias” vidas jovens, e curtas, sempre antes de ficar velhas e pesadas demais para poder suportar depois. E ultimamente, por mais felizes, jovens e frescas que fossem, não podiam suportar, e sucumbiam ao peso de todas as predecessoras, e tendiam a um fim trágico, ou um suicídio abrupto, entre um dos hiatos grotescos e abissais dos momentos de felicidade e quase euforia.

Estava cada dia mais cansado, e cansara eventualmente de viver tantas outras vidas, e embora não pudesse evitar de vive-las, uma vez integrante delas, tomava o rumo que bem decidisse, e colocava um fim a todas como já disse, um fim trágico quando num dos momentos de depressão, percebia que já havia ido longe demais com aquela. Havia até elaborado uma espécie de matemática cruel em sua mente, em que havia o zero, e aquilo que estava acima ou abaixo dele, como uma escala que indicava o quanto ainda valia a pena viver, enquanto o saldo permanecia positivo, ele vivia, quando caia para o negativo, ele realizava a “não-vida”, e reiniciava o ponteiro de seu medidor mórbido novamente para o zero...

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