terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Tales

Parte 1

Era uma vez um garoto, e como em toda boa historia, não era um garoto assim tão comum, ele tinha uma característica muito especial, e também muito triste, ele envelhecia através dos outros, e alem disso, talvez o mais extraordinário, embora certamente não pareça, ele tinha um dom divino, a outra face de sua característica especial, ele vivia... Mas, não vivia da mesma forma que a grande maioria, ele vivia muito, muito mais. Pois ele vivia não apenas sua vida, mas vivia infinitamente varias vezes em pouquíssimos minutos, vivia cada vida que pudesse conhecer, mesmo que através de historias há muito tempo esquecidas, e dessa forma, vivia todas as vidas, mesmo as já vividas, ou as que normalmente nunca poderiam ser... Em qualquer época, circunstancia ou lugar... Mas ele as vivia de verdade, com tanta intensidade e veracidade, que ninguém mais seria capaz, e assim ele as vivia por completo, e usava mais da vida de algum, do que seus próprios donos originais. Ele sentia cada sentimento e sensação, ele podia ouvir, saborear, cheirar, e ser qualquer um, de uma forma que para nós, seria incompreensível.

Porem, por mais bela fossem as vidas que vivesse, havia, digamos, um preço a se pagar, ou talvez dois, assim como toda a vida tem suas maravilhas e encantos, elas também têm seus momentos difíceis, e suas dores, as quais ele não poderia evitar viver com tanta intensidade quanto a todo o resto, e assim, alem do sofrimento que cabia a uma única pessoa, ele sofria por toda uma humanidade, das tristezas menores de uma vida amena, às duras penas das vidas miseráveis que rastejaram por este mundo, e como se não bastasse, dentre todos os sofrimentos diferentes de todas as vidas diferentes, há um em comum a todas, que ele também não poderia escapar, e o sentiria em seu máximo, o envelhecer.
Ele envelhecia ao passo em que as vidas que vivia também envelheciam, o tempo arrastava a ambos, e se vivia 10 vidas no mesmo instante, envelhecia 10 vezes mais rápido, e embora em grande parte das vezes, só fosse a ele possível viver trechos de vidas, não chegando ao seu fim, e não sentindo o peso do tempo em sua maior amplitude, ainda sim, havia adquirido a bagagem de um bom tempo para pesar em seus ombros, alem daquelas vidas, provavelmente a maioria, ou se não maioria, por serem tão longas, superando todas as outras em seu volume cronológico, as vidas que vivera até o fim.

Estas pesavam tanto em si, que mesmo quando ainda jovem, não atingindo ainda a casa dos 20 anos, já havia vivido mais do que qualquer um que conhecera, e em alguns momentos, se sentia tão velho quando podia imaginar.
Para contornar seu estado de velhice, ele se evadia de sua dita por todos como “vida principal”, embora talvez melhor descrita como “vida acumulada”, por não diferir muitas vezes das outras em qualquer que fosse o quesito, apenas diferindo por acumular nela, todas as outras, quase todas as memórias, e toda a bagagem de toda historia que chegava ao fim, bem, se evadia desta vida, para viver mais uma, uma vida jovem, que o fizesse sentir jovem por um momento. Mas não é necessário dizer que isso não resolvia seu problema realmente, era uma ótima solução imediata, como férias de sua condição quase agonizante, porem, quando estas “férias” terminavam, seus dias, e sua bagagem também era adicionada ao resto, e no final, somente o faziam sentir ainda pior.

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